A medicina está sempre em busca de terapias eficazes e com poucos efeitos colaterais. Em alguns casos, as descobertas surgem de onde menos se espera. Uma das técnicas que vêm conquistando adeptos envolve cães, gatos e coelhos, entre outros bichos. Eles são usados para amenizar o stress e auxiliar no tratamento de pacientes com deficiência física e autismo (transtorno caracterizado por perda de contato com o mundo exterior), por exemplo. Trata-se da Terapia Assistida por Animais (TAA).

A experiência tem surpreendido tanto os especialistas que pela primeira vez no País é conduzida uma pesquisa para medir seus benefícios. Comandado por geriatras do Hospital Universitário da Universidade de Brasília (UnB), o estudo analisa as reações de 23 portadores do mal de Alzheimer (doença caracterizada por falhas de memória e demência). Os pacientes recebem semanalmente a visita de dois cães das raças golden retriever e bernese. Um dos objetivos é estimular a memória dos voluntários. Por isso, os profissionais perguntam se os idosos se recordam do nome e da cor dos animais. Cada resposta positiva é valiosa. “Tem paciente que recorda do cão que teve na infância. E há alguns que voltam a se lembrar do nome dos filhos”, conta o geriatra Renato Guimarães, coordenador do trabalho.

Em Brasília, existem outras iniciativas. No Centro de Ensino Especial de Guará (cidade-satélite) são atendidos portadores de problemas como autismo e paralisia cerebral. No caso dos autistas, o encontro com o animal os estimula a voltar sua concentração para a realidade. “Quando a criança interage com o bicho, sua atenção está focada no animal. Por meio desse contato, chegamos até ela”, explica a professora Cássia Borba, responsável pelo projeto. Os bichos também ajudam as crianças com sequelas motoras causadas pela paralisia cerebral a fazer fisioterapia de um modo não monótono. Uma das tarefas é pentear o pêlo dos gatos. Com uma escova em punho, Fhilipe Araújo, quatro anos, treina a coordenação motora das mãos. “Ele está recuperando os movimentos”, diz Cássia.

A forma mais conhecida da fisioterapia feita com animais é a equoterapia. Durante a cavalgada, o movimento do dorso do animal se reflete na coluna do cavaleiro. Como ele é semelhante ao de uma pessoa ao andar, isso cria uma espécie de memória neurológica que auxilia o paciente a voltar a caminhar. “A cavalgada também fortalece o tônus muscular”, diz a fisioterapeuta Pascale Tacani, do Centro de Equoterapia Hípica Brasil, em Cotia (SP). Quem vai bem na equitação pode passar para o volteio terapêutico. O animal dá voltas em círculo e o praticante precisa se equilibrar ajoelhado. Depois, conforme sua evolução, pode até ficar de pé sobre o cavalo. Foi desse modo que Alexandre Chohsi, 29 anos, superou as deficiências causadas por uma lesão cerebral. “É emocionante vencer um desafio como esse”, comemora.

Mesmo quem nunca pensou em recorrer a um bichinho de estimação se surpreende com o resultado que a companhia de um animal produz. É o caso do relações-públicas paulistano Rai Araújo, 50 anos. Ele estava estressado devido a problemas no trabalho. Sua filha, Roberta, o presenteou com Ted, um cocker spaniel. Aos poucos, o cão se tornou um parceiro. “Comecei a sair para passear com o Ted e fui relaxando. Ele foi meu calmante”, brinca. Os mascotes são capazes mesmo de ajudar a contornar momentos complicados. “A pessoa encontra no animal características que satisfazem suas necessidades, como fidelidade e companheirismo, e isso ajuda a superar carências”, assegura a psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs, uma das principais especialistas do tema no País.

Por apresentar tantos benefícios, a terapia começa a vencer a resistência dos médicos. Alguns recomendam o método para casos bem específicos. “Indico a pacientes com depressão. Os animais são ótimos companheiros para esses momentos”, afirma o médico Abrão Cury Jr. (SP). O método também desperta o interesse de profissionais da saúde que desejam se aprofundar no tema. Em abril foi montado na UnB o primeiro curso de extensão – ministrado pela professora Maria Cláudia Medeiros da Silva – para ensinar a técnica. “É preciso esquecer o preconceito para pensar nos reais benefícios oferecidos pelos animais”, diz a veterinária Damaris Rizzo, aluna do programa.