Show de luz: feitos de gelo e poeira, cometas como o McNaught só ganham brilho perto do Sol

O famoso cometa Halley, que passou pela Terra em 1986, nunca mais será o mesmo. Tampouco o Hale-Bopp que nos visitou em 1997 continuará sendo tão lembrado. A nova vedete dos céus chama-se cometa McNaught (o nome é hollywoodiano) e em matéria de brilho ele deixa os seus pares para trás. Por isso, prepare-se: com o auxílio de binóculos comuns será possível admirar o McNaught nos céus do Brasil até a quarta-feira 24, à esquerda do horizonte, logo após o pôr-do-sol. Depois dessa data, os astrônomos prevêem que ele se afastará da Terra.

Descoberto apenas há cinco meses, ele prometia ficar famoso como uma estrela extremamente brilhante, mas o início de sua vida de cometa se deu de forma bastante discreta: ele só foi captado pelas lentes do telescópio do observatório australiano Siding Spring, um dos mais modernos do mundo, que o revelaram como um gigantesco bloco de areia e gelo. Na semana passada, porém, atingiu o estrelato científico ao passar e ser visto a olho nu no Hemisfério Norte, surpreendendo até mesmo o seu descobridor, o astrônomo Robert McNaught (com toda a licença, o nome é hollywoodiano mesmo). Ao longo de sua carreira, esse pesquisador já identificou 30 cometas, um número invejável considerando a quantidade de especialistas que vasculham os mais remotos cantos do universo com a ajuda de potentes telescópios. McNaught, que pelas regras da União Astronômica Internacional batizou o cometa com seu sobrenome, nunca havia, no entanto, flagrado algo tão belo e que hoje se traduz como o mais brilhante cometa. Segundo a International Comet Quarterly (ICQ), a mais conceituada publicação do mundo nesse setor, ele só perde para o Ikeya-Seki, identificado em 1965 e que atingiu magnitude -7 (unidade que significa brilho). O novato McNaught tem o índice de -5,5 e, ostentando tal classificação, se torna seis vezes mais grandioso que o Hale-Bopp e 100 vezes mais imponente que o cometa Halley.

Assim como todo cometa, o fato de ele brilhar intensamente não significa que tenha luz própria. Feitos de poeira e gelo com dióxido de carbono, esses bólidos se desfazem à medida que se aproximam do Sol (o calor derrete o gelo) e é nesse momento que começa a formação da cauda. Ou melhor: das caudas. Uma é resultado do desprendimento da poeira cujos grãos refletem a luz solar. “É essa cauda que vemos da Terra”, diz Jeff Morrill, pesquisador do Naval Research Laboratory, dos EUA. A outra cauda é formada pela liberação do dióxido de carbono em forma de gás.

Para os comuns dos mortais que se dispuserem a observar o McNaught, claro que aquilo que mais interessa é o brilho – não importa quantos anos tenhamos, o certo é que somos eternamente crianças quando vemos algo brilhante no céu. Para os treinados astrônomos, no entanto, o que importa é olhar cientificamente o rastro de gás. Motivo: “Se conseguirmos medir o ângulo formado pela cauda gasosa ao longo da trajetória do cometa, teremos chances de calcular a velocidade dos ventos solares”, diz Morrill. Ou seja: além de belos e lúdicos, os cometas são por si só instrumentos de avanços científicos.

Prova disso é que sondas americanas e européias monitoram o comportamento da cauda de McNaught – e a fotografam sem parar. “Ela nos dará preciosos dados sobre a origem do Universo e, mais importante ainda, nos ajudará a planejar melhor a nossa grande e ousada missão”, diz o astrônomo Gerhard Schwehm. A missão em questão, pasmem, é fazer pousar a nave Rosetta em um cometa em 2014. Como se vê, o McNaught é de fato a realidade atual mais hollywoodiana do cosmos.