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CONSUMO
Com o aumento da renda, o brasileiro equipou sua casa com
eletrodomésticos que aumentam o conforto

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O Brasil tem motivos para comemorar. Um retrato do País recém-divulgado reflete uma coleção de avanços socioeconômicos, a começar pelo pouco impacto da turbulência econômica internacional no cotidiano brasileiro. “Apesar da crise no mundo, a renda per capita do brasileiro cresceu 2,04%”, diz o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas. “Mais do que isso, a renda dos 40% mais pobres aumentou 3,15%, contra 1,09% dos 10% mais ricos.” A façanha diz respeito ao desempenho da economia nacional entre setembro de 2008 e o mesmo mês do ano seguinte, objeto da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Enquanto o mundo enfrentava instabilidades de todos os gêneros, o Brasil conseguiu manter a trajetória favorável de seus principais indicadores. Nesse percurso, conviveu, porém, com ritmos distintos. O Brasil que depende do setor privado avança de forma mais rápida do que aquele vinculado exclusivamente à máquina do Estado. Realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pesquisa aponta resultados tão contundentes que deveria servir como referencial para aqueles que saírem das próximas eleições com a missão de administrar os Estados e o País.

Na sequência da queda da desigualdade social e do aumento da renda, houve uma explosão do consumo e do acesso a serviços. O setor privado cumpriu a sua parte. Não faltou produto no mercado. Mais de dois milhões de domicílios passaram a ter telefone – móvel ou fixo – em 2009. Numa edição que incorpora entre as novidades a investigação do uso de celular e internet, a PNAD revelou ainda que o uso da telefonia móvel aumentou quatro vezes em cinco anos. No mesmo período, o acesso à internet quase dobrou. Entre os mais de 20 milhões de residências brasileiras com computador, 16 milhões usam a rede mundial. Além de mais equipadas em termos de informática, as casas brasileiras ficaram mais confortáveis, por causa do aumento do consumo de geladeiras, máquinas de lavar, televisões e aparelhos de DVD. A posse de carros e motos também aumentou em todo o País.

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DESPESA
Sem investimento do poder público, hoje há mais residências com
DVD do que com serviço de coleta de esgoto

O contraditório é que, enquanto 72% das casas têm aparelho de DVD, apenas 59,1% delas estão ligadas à rede de esgoto. Comparado com o índice do ano anterior – 59,3% – houve até um recuo. No campo da educação, o cenário também é desolador, embora o índice de analfabetismo venha registrando queda. O avanço no setor é tão lento que em 2009 ainda existiam 14,1 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que não sabiam ler nem escrever. Ressaltando que o esforço na área sanitária já poderia ter sido feito pelo Estado com mais empenho e eficácia, o cientista político Fábio Wanderley lembra que o setor educacional depende de investimentos de longo prazo. “No caso específico da educação, temos ainda uma variável importante, que foram mais de três séculos no escravismo e pouco mais de um século tentando consertar o malfeito”, afirma Wanderley, que é professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. “A Argentina resolveu o problema do analfabetismo no século XIX.”

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Para minimizar o legado escravocrata, o cientista político destaca como fator expressivo a afirmação dos interesses populares na esfera econômica durante as disputas eleitorais. “São temas que muito recentemente começaram a ter impacto claro e decisivo”, diz Wanderley. No que diz respeito aos números detectados pela PNAD e ao sofrível quadro do saneamento básico, na quarta-feira 8 houve até troca de farpas entre os dois candidatos que lideram as pesquisas para o Palácio do Planalto. “O Brasil não surfou por cima da crise como se acredita!”, alfinetou o tucano José Serra, que desprezou a tendência de aumento da participação dos empregados com carteira assinada em todos os setores de atividade. “Muitos empregos preexistentes viraram carteira assinada e não foi criação de emprego.” A pesquisa sinaliza ao mesmo tempo o aumento do registro em carteira profissional e do desemprego – 8,3% em 2009, contra 7,1% no ano anterior.

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EMPREGO
Apesar do avanço na economia, o volume de desempregados no Brasil cresceu entre 2008 e 2009

Dilma Rousseff (PT), por sua vez, culpou Estados e municípios pela baixa cobertura de saneamento básico no Brasil. Lembrando a falta de projetos para a área e o longo prazo do começo ao fim de uma obra – 65 meses –, a presidenciável não hesitou em apontar São Paulo como um dos Estados que entravam os avanços no setor. “Eles atrasam muito. E quando íamos cobrá-los, diziam que os prazos deles são diferentes dos nossos”, reclamou Dilma. Avanços na infraestrutura desde sempre precisam de planejamento de longo prazo e investimentos de vulto. Têm ainda o inconveniente de não darem retorno imediato ao gestor público, de acordo com o sociólogo Elimar Nascimento, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília. “É uma questão de opção política”, afirma Nascimento. “O orçamento é sempre limitado e o gestor define prioridades.” Na sua opinião, foi o que fez o governo federal, que provocou um impacto social importante ao investir no programa social Bolsa Família.

Pela contabilidade do economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, no período pesquisado pelo IBGE cerca de um milhão de brasileiros deixaram a situação de pobreza. “Como consequência da manutenção do crescimento e da redução da desigualdade, continua a tendência de redução da pobreza, que vem desde 2003, quando o número de pobres no Brasil era de 49 milhões de pessoas”, compara Neri. “Mas o Brasil tem ainda 28,8 milhões de pobres.” Com esse contingente está a preocupante série de indicadores levantados pela PNAD que definem a qualidade de vida da população. Como os avanços são mais lentos nos setores que dependem do Estado, quem assumir cargos públicos deveria considerar os resultados da PNAD como um manual para a sua conduta no decorrer do mandato. Acertando o passo com o setor privado, o País terá mais chances de avançar na construção da cidadania.

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