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“Já orientei mais de 40 teses de doutorado no Brasil.
Boa parte delas tem padrão internacional”
Jacob Palis, matemático

Um dos campos científicos menos badalados no Brasil rendeu reconhecimento internacional na semana passada. O matemático Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, foi agraciado com o Prêmio Balzan, um dos mais importantes da Europa. Além dele, apenas seis estudiosos da área já conquistaram a láurea, concedida a pesquisadores de diversos ramos do conhecimento desde 1972. “Até hoje, apenas matemáticos dos Estados Unidos e da Europa haviam sido premiados”, celebra o cientista.

Quando recebeu a notícia do prêmio, Palis estava em um simpósio na Inglaterra, no qual falou sobre seu trabalho desenvolvido ao longo de 20 anos com sistemas dinâmicos, uma contribuição à Teoria do Caos (leia quadro). Mineiro de Uberaba, o pesquisador chegou a estudar e lecionar na Universidade de Berkley, na Califórnia, mas desde 1998 mora no Brasil e atua no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. “Descobri que podemos trabalhar com ciência no Brasil. É possível chegar a um patamar muito elevado ficando no País”, disse à ISTOÉ. “E não falo só por mim. Já orientei mais de 40 teses de doutorado de jovens talentosos. Boa parte delas tem padrão internacional”, ressalta. Palis afirma ainda que a matemática é hoje uma das áreas de destaque na pesquisa brasileira, ao lado da física e da engenharia. “Em termos de produção científica, estamos próximos da média mundial, tradicionalmente puxada pelos países desenvolvidos”, atesta. Já quando o assunto é a área biológica, de acor­do com o estudioso, os brasileiros começam a perder terreno por conta da falta de recursos para bancar esse tipo mais caro de pesquisa.

A cerimônia de entrega do Prêmio Balzan acontecerá em 19 de novembro, na Itália, onde fica a sede da fundação de mesmo nome. Palis receberá 750 mil francos suíços (quase R$ 1,3 milhão), mas a metade é obrigatoriamente destinada à pesquisa sob supervisão do matemático. Parte do dinheiro deverá ser destinada ao Impa, mas o matemático garante que o instituto já está muito bem financiado. Além do brasileiro, também foram agraciados o italiano Carlo Ginzburg, por seus estudos em história europeia, o alemão Manfred Brauneck, pelo trabalho em história do teatro e o japonês Shinya Yamanaka, que desenvolve pesquisas com células-tronco.

Para entender a Teoria do Caos

A Teoria do Caos é aplicada para entender como funcionam sistemas complexos em constante transformação – como o crescimento de populações, o comportamento do mercado financeiro ou a formação de uma nuvem. Uma das bases mais conhecidas da teoria é o chamado “Efeito Borboleta”, elaborado pelo matemático Edward Lorenz em 1963. Segundo o pesquisador, os resultados finais desses fenômenos dependem muito de suas condições iniciais. Assim, o bater de asas de uma borboleta em Nova York pode desencadear uma série de eventos que podem culminar em um furacão em Tóquio. O trabalho de Jacob Palis procura lançar novas luzes sobre essas questões. Ele propõe a hipótese de que os resultados de sistemas complexos tendem a se agrupar em padrões, tornando o imprevisível um pouco mais exato.

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