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POTENCIAL
Tempestade elétrica exibe sua fúria em estrada do Meio-Oeste americano

A mesma umidade que forma o orvalho que cobre as folhas das plantas durante a noite – facilmente perceptível em regiões como a Amazônia, por exemplo – pode ser a próxima fonte de energia limpa a abastecer o planeta. É o que propõe o cientista brasileiro Fernando Galembeck, da Universidade de Campinas (Unicamp). A pesquisa que comprova sua ideia foi apresentada durante a última reunião da Sociedade Americana de Química, em Boston (EUA). Galembeck garante que, principalmente em lugares com alta umidade relativa do ar, as famílias poderão ter dispositivos no quintal de suas casas que transformarão as partículas de água em eletricidade – algo semelhante ao que acontece na formação dos raios.

O fenômeno deixa cientistas entusiasmados há séculos. São célebres os relatos de pessoas que tomaram choques após tocar no vapor saído de chaleiras, como resultado da eletricidade estática que se forma nesse caso. O austríaco Nikola Tesla (1856-1943), famoso por, entre outros feitos, ter inventado a corrente alternada, sonhava em captar esse tipo de energia. O evento ocorre quando o vapor se acumula em partículas de poeira e outros materiais, gerando correntes elétricas. Até hoje, porém, os cientistas não conseguiram descobrir todos os segredos que explicam como o processo se dá na atmosfera.

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CENÁRIO IDEAL
Regiões úmidas como a Amazônia podem se beneficiar com a tecnologia

“O resultado obtido até hoje é muito fraco”, disse à ISTOÉ Marin Soljačić, físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. “Para utilizá-lo em larga escala, seria preciso encontrar um modo de aumentar consideravelmente a taxa de produção de energia.” Estima-se que a quantidade coletada num dispositivo do tipo seja 100 milhões de vezes menor do que a produzida numa mesma área com células de captação de energia solar. Por isso, Soljačić afirma que os estudos devem continuar. “É importante descobrir até onde a pesquisa pode chegar.”

O brasileiro Galembeck alcançou os resultados atuais depois de simular, em laboratório, o contato no ar entre água, partículas de outros líquidos e de poeira – sílica e fosfato de alumínio, substâncias comuns na atmosfera. Ele observou que as partículas de sílica se tornaram mais carregadas negativamente, enquanto o fosfato ficou positivamente carregado. “É uma clara evidência de que a água na atmosfera pode acumular carga elétrica e transferi-la para outros materiais com os quais entra em contato”, disse o pesquisador brasileiro durante o encontro, em Boston. Ele ainda acrescentou que a tecnologia pode ajudar a prevenir que raios se formem e atinjam construções.

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Superados os devaneios dos séculos passados, parece que chegou o momento de a “energia da umidade” ser posta em prática. Soljačić, do MIT, dá sua sugestão. “É um pouco cedo para afirmar, mas talvez a nanotecnologia seja muito útil nesse sentido.” Galembeck admite que resultados concretos levarão tempo, mas que a espera se justifica. “Temos um longo caminho pela frente. Os benefícios em longo prazo, no entanto, podem ser substanciais”, afirma. Matéria-prima é que não vai faltar.

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