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ORDEM
Temendo ver  o tesouro imperial cair em mãos inimigas,

Nicolau II decidiu enviar as reservas de ouro para a Sibéria

A morte do último czar russo, Nicolau II, e de sua família durante a Revolução Bolchevique de 1917 sempre foi envolta em muito mistério. A reticência soviética em divulgar informações claras e precisas sobre como se deu o assassinato de Nicolau, sua mulher, seu filho e suas quatro filhas serviu como combustível para a criação e propagação de inúmeras lendas. Ao longo dos últimos 90 anos, muitas delas mostraram-se apenas exemplos da fértil imaginação russa, como a que dizia que uma das filhas do czar havia fugido do extermínio. Até no sertão de Mato Grosso a filha teria sido localizada A mais incrível dessas lendas conta que 1,6 mil toneladas de ouro das vastas reservas imperiais de Nicolau foram enviadas para a Sibéria por uma ferrovia construída sobre as águas congeladas do Lago Baikal, o mais profundo do mundo. A história, que vem sendo contada de pai para filho há décadas, diz que o gelo não suportou o peso dos vagões abarrotados de ouro e cedeu, levando para as profundezas do Baikal uma das grandes fortunas do mundo, avaliada hoje em cerca de US$ 500 bilhões.

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EXECUÇÃO
O transporte das 1,6 mil toneladas de ouro ficou a cargo
do almirante Kolchak, chefe da guarda imperial

Na última semana, um grupo de pesquisadores russos encontrou fortes indícios de que a história pode não ser exatamente lendária. Equipados com os mesmos minissubmarinos que permitiram localizar os restos do Titanic, eles encontraram o que tudo indica ser destroços de um trem de carga a 1,2 mil metros de profundidade no Lago Baikal, como vigas de aço, caixas de munição e placas de metal utilizadas nas confecções de vagões. Mais próximos da superfície, a 400 metros de profundidade, eles também encontraram barras de um material com a mesma coloração do ouro. A suspeita ainda não foi confirmada porque o material está incrustado no leito do lago, em uma área lodosa e de difícil acesso para os submarinos.

Iniciada em 2008 e intitulada de Mir, a missão científica internacional é liderada pelo pesquisador Bair Tsyrenov e organizada por um fundo de assistência para a proteção do Lago Baikal. A expedição é financiada por organizações científicas e ecológicas não governamentais, além de algumas empresas privadas e do apoio de membros da Duma, a câmara baixa russa, como Vladimir Gruzdev, explorador e deputado. Entre os grandes destaques da expedição estão os minissubmarinos utilizados na busca do ouro. Medindo menos de oito metros de comprimento, o Mir 1 e o Mir 2 tocaram pela primeira vez na parte inferior do lago mais profundo do planeta em julho de 2008.

A lenda do tesouro perdido do último czar russo teve início em 1918, com o assassinato de Nicolau II, aos 50 anos de idade. Ele já havia abdicado do trono quando foi feito prisioneiro pelos bolcheviques, que assumiram o poder na Rússia em 1917. Toda a família real foi morta após passar vários dias no porão de uma mansão, alimentando-se exatamente com a mesma ração com que os soldados que lutaram na I Guerra Mundial eram abastecidos. Uma das lendas em torno da execução da família imperial diz que as quatro filhas de Nicolau morreram por último por estarem vestindo roupas confeccionadas com mais de 1,3 quilo de diamantes que teriam funcionado como uma proteção inicial às balas. A missão de transportar o ouro de São Petersburgo para a Sibéria havia ficado a cargo do almirante e chefe de sua guarda imperial, Aleksandr Kolchak. Herói da Primeira Guerra Mundial, Kolchak liderou um comboio, em 1919, durante a guerra civil russa, junto com membros do Exército, conhecido como os “guardas brancos”. Eles teriam cruzado o Baikal carregando as mais de 1,6 mil toneladas de ouro quando o gelo que servia como suporte para a ferrovia de inverno não suportou o peso do comboio.

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Apesar das recentes descobertas da equipe russa, a história só deixará de ser considerada uma lenda quando os pesquisadores conseguirem retirar as peças que encontraram e provar que se trata, de fato, do ouro do czar. Para muitos historiadores o que foi localizado até agora não prova nada e eles mantêm a tese de que o tesouro foi roubado, e não perdido nas profundezas do Baikal. A mais aceita é a de que o ouro de Nicolau foi contrabandeado por membros da antiga guarda imperial para o Japão e, depois, levado para a Inglaterra.

Agora, tudo depende do que será retirado do lago siberiano. Mas, mesmo que os pesquisadores tenham de fato encontrado a fortuna perdida, uma coisa é certa: lendas sobre o último czar do império russo continuarão existindo.

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