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DISCRIÇÃO
“Sou mineiro. A badalação não está, definitivamente, no meu DNA”

Selton Mello, 37 anos, vem sendo eleito pelo público e pela crítica um dos melhores atores de sua geração – o que certamente explica por que, no campo profissional, faz tanta coisa. Na televisão, ele interpreta Dimas, um médico com poderes sobrenaturais, protagonista da série “A Cura”, da Rede Globo. No cinema, Selton vai em diversas direções. Como dublador, coloca a voz no personagem eletrodoméstico do filme “Reflexões de Um Liquidificador”, de André Klotzel, em cartaz em São Paulo. Como diretor, finaliza “O Palhaço”, seu segundo filme (o primeiro foi “Feliz Natal”, em 2008), no qual também interpreta o personagem-título. E, até o fim do ano, será visto como policial em “Federal”, de Eryk de Castro, e vivendo um marquês espanhol em “Lope”, de Andrucha Waddington (lançamento previsto para novembro). A diversificação de papéis é meio aleatória: “Minhas escolhas não seguem uma cartilha. Às vezes, o personagem é irrecusável, às vezes, o que conta é trabalhar com um diretor que admiro. Preciso me sentir estimulado ou estaria cumprindo tabela. Arte não combina com burocracia.”

Selton comemora três décadas de carreira, se contar o tempo de criança – seu primeiro trabalho como ator foi aos 7 anos, na telenovela “Marrom-Glacê”. Já a última novela da qual participou foi “Força de Um Desejo”, e isso há dez anos. Ele prefere especiais, séries e minisséries, e foi aí que o cinema o descobriu – o ator se tornou uma das maiores estrelas das telas.

“O afastamento da tevê não foi planejado. As coisas caminharam como meu desejo ia pedindo. Mas eu estava com saudade da comunicação que a televisão proporciona”, diz Selton, que não descartada a volta às novelas. “Só não sei quando.” No lançamento de “Feliz Natal”, no ano passado, ele declarou que deixaria de representar. Mas hoje admite que foi uma crise momentânea: “Não soube lidar com o prazer que a direção me deu. É evidente que vou continuar a atuar, inclusive para poder viabilizar meus projetos como diretor. O que gosto, na verdade, é de poder variar.”

Essa variedade é, com certeza, a grande marca de sua carreira e de seus papéis – do divertido Chicó do filme e série “O Auto da Compadecida” ao atormentado Emanuel, de “A Indomada”, passando pelos personagens reais dos filmes “Meu Nome Não É Johnny” e “Jean Charles”. “Quando crio um personagem, tenho objetivos claros. É parecido com um jogador de futebol que tem o gol como meta. Não gosto dos jogadores firuleiros, que ficam se exibindo, e essa imagem vale também para os atores”, diz ele. A busca pelo “simples” na composição do personagem é um desafio que gosta de enfrentar – e vencer. Muitos associam seu nome fortemente à comédia e esse foi um dos motivos que o levaram a se encantar com o personagem Dimas, de “A Cura”: “Esse papel me instigou porque é raro, para mim, poder fazer um trabalho com contornos dramáticos na tevê.” O elenco também pesou. Em “O Palhaço”, Selton está no que chama de “ótima companhia”, ao lado do consagrado e veterano Paulo José: “Foram três meses de convivência e essa experiência eu vou guardar para sempre. Paulo é um dos grandes atores do País, artista inquieto, uma criança hiperativa.” Mesmo com tanta evidência, Selton não se sente bem, no entanto, com a superexposição. “Sou mineiro. A badalação não está, definitivamente, no meu DNA.”

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