Nos últimos anos de vida, Vicent Van Gogh produziu suas obras mais famosas a partir de uma cidadezinha chamada Arles, pintando na maioria das vezes ao ar livre. É dessa época pinturas como Vista de Arles com Lírios (1888), Girassóis (1888) e Quarto em Arles (1888). Há uma infinidade de cartas entre ele e seu irmão Theo que foram cuidadosamente guardadas desde o século passado. Em uma delas, Van Gogh dizia: “Eu não quero pintar quadros, eu quero pintar a vida”.

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O momento era perturbador, pois o artista vivia crises mentais e estava em um sanatório para se tratar. Porém, Arles era uma cidade encantadora e o cenário ao redor era espetacular, motivando a criação de “A Noite Estrelada”, a mais famosa obra de Van Gogh e uma das mais inovadoras da história.

Esse quadro tem uma longa história, mas para reviver a obra-prima selecionei 10 coisas que talvez você não saiba.

1- Local da pintura – Vincent Van Gogh pintou “A Noite Estrelada” em 1889 a partir da janela de seu quarto no segundo andar do sanatório Saint-Paul-de-Mausole para doentes mentais em Saint-Rémy-de-Provence (França). Ele estava se recuperando de um surto psicótico que teve no inverno de 1888 e que resultou na amputação de sua orelha esquerda com uma navalha. A vista da janela tornou-se a base de seu trabalho mais icônico. Sobre sua inspiração, Van Gogh escreveu em uma de suas muitas cartas a seu irmão Theo: “Esta manhã eu vi o país da minha janela muito antes do nascer do sol, com nada além da Estrela da Manhã, que parecia muito grande.”

2- Noite ou céu – Quem olha profundamente para a pintura tem a sensação de que as estrelas estão realmente piscando e o céu está se movimentando em forma de redemoinhos. Para um minuto para observar a pintura. Note o movimento da obra, as camadas de cor e a quantidade de tons presentes. As espirais são o primeiro elemento que chama a atenção na obra. As pinceladas são rápidas, em círculos e dão uma sensação de profundidade e de muita agitação ao céu. Com seus redemoinhos sedutores, composição inebriante e paleta de cores encantadora, “The Starry Night” hipnotiza que a observa. No passado, poucos críticos debatiam se Van Gogh estava retratando o pôr do sol ou o nascer do sol por meio de sua pintura, mas agora uma legião de estudiosos defende a tese de que “A Noite Estrelada” é, sim, uma representação subjetiva do nascer do sol. Será?

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3-Ele retirou as barras de ferro – O sanatório para doentes mentais tinha barras de ferro em todas as janelas. Van Gogh deixou de fora as barras de sua pintura. Em uma carta para seu irmão Theo, escreveu: “Através da janela com grades de ferro, posso ver pela manhã o sol nascer em toda a sua glória”. Van Gogh pintou 21 vezes a vista de sua janela voltada para o leste. Embora a série retrate vários horários do dia e da noite, além de diferentes condições climáticas, todas as obras incluem a linha das colinas ao longe. Nenhuma pintura mostra as barras na janela de seu quarto.

4- Obra fracassada – Van Gogh considerou “A Noite Estrelada” um fracasso. Justamente as estrelas, que chamam a atenção pela beleza plástica e por demonstrarem uma grande abstração, ficaram muito grandes sob o olhar do artista, que acabou classificando o quadro como algo secundário. Em carta para seu irmão Theo, escreveu: “Todas as coisas que considero um pouco boas são o campo de trigo, a montanha, o pomar, a oliveira, as árvores com as colinas azuis, os retratos e a entrada para a pedreira. O restante (como a “A Noite Estrelada”) não me diz nada”.

5- Turbulências – Mesmo em um período de intenso sofrimento, Van Gogh foi de alguma forma capaz de perceber e representar um dos conceitos mais difíceis que a natureza já trouxe à humanidade. Definitivamente, o artista só conseguiu pintar o jogo turbulento de luz e escuridão do quadro porque estava passando por momentos de muita agitação mental, após uma crise psicótica. A agitação de seus pinceis foi comparada muitas vezes a movimentos da natureza como redemoinhos e correntes de ar. Matemáticos, engenheiros e físicos estudaram profundamente sua pintura, considerada a mais inovadora do mundo. Van Gogh foi o único artista do mundo capaz de comunicar com precisão essa agitação usando gradações precisas de luminescência.

6- Simbolismo – “A Noite Estrelada” é uma tentativa de expressar um estado de choque e os elementos da pintura agiram como catalisadores de Van Gogh. As torres escuras que aparecem em primeiro plano são ciprestes, plantas frequentemente associadas a cemitérios e à morte. Essa possível conexão dá um significado especial à citação de Van Gogh: “Olhar para as estrelas sempre me faz sonhar. Eu me pergunto por que os pontos brilhantes do céu não deveriam ser tão acessíveis quanto os pontos pretos no mapa da França? Assim como pegamos o trem para chegar a Tarascon ou Rouen, pegamos a morte para chegar a uma estrela”.

7- Estrela – A ‘Estrela da Manhã’ dominante na pintura é na verdade Vênus, que estava nessa posição estrelar na época em que Van Gogh estava pintando “A Noite Estrelada”, chamou a atenção do pintor. Muitos anos depois que da data de produção da obra, pesquisadores indicaram que Vênus estava visível ao amanhecer de Provence naquela primavera de 1889 e que seu brilho era realmente quase máximo naquele período. Portanto, conclui-se que a estrela mais brilhante da pintura é o segundo planeta do sistema solar.

8- Aldeia – A aldeia foi mais licença poética do que a realidade. Ela é o único elemento pictórico definitivamente fora do alcance da vista da janela. Van Gogh não teria sido capaz de ver Saint-Rémy de seu quarto. Portanto, a vila retratada na pintura é resultado de um dos esboços a carvão que Van Gogh fez de outra localidade, que pode ter sido a própria cidade francesa ou um vilarejo de seu país de origem, a Holanda.

9- A arte virou estudo científico – Muitas vezes, as pinturas enganam o cérebro humano e acabamos vendo imagens como se elas estivessem em movimento. Sabendo disso, vários estudiosos usaram a obra para desvendar os mistérios da ciência, da matemática e a dinâmica de fluidos, que é uma das ideias mais complexas para explicar matematicamente, além de ser uma das mais difíceis para conseguirmos compreender. O matemático russo Andrei Kolmogorov analisou a pintura para explicar o que significa turbulência (embora a descrição completa do tema continue sendo um dos problemas não resolvidos na física). Para ele, um fluxo turbulento é semelhante a uma cascata de energia, na qual grandes redemoinhos transferem sua energia para redemoinhos menores. Cientistas internacionais estudaram depois, em detalhes, a luminância da pintura de Van Gogh e descobriram que há um padrão distinto de estruturas de fluidos turbulentos próximos à equação de Kolmogorov. As pinceladas do período de agitação psicótica se comportam de maneira muito semelhante à turbulência fluida. Nessa fase de intenso cuidado e de muito sofrimento, Van Gogh conseguiu mostrar e explorar alguns dos conceitos mais difíceis de se entender= os mistérios dos movimentos, dos fluidos e da luz.

10- Trajetória até museu em Nova Iorque Van Gogh nunca conseguiu vender a obra quando estava vivo. Após sua morte, sua cunhada, Johanna Gezina van Gogh-Bonger, vendeu “The Starry Night” em 1900 para o poeta francês Julien Leclerq. Logo na sequência, o poeta a revendeu para o artista pós-impressionista Émile Schuffenecker. Seis anos depois, a cunhada recomprou o quadro de Schuffenecker para repassá-lo à Galeria Oldenzeel, em Rotterdam. Entretanto, a história não para por aí e seu caminho até chegar aos Estados Unidos é bem interessante. Lillie P. Bliss era filha de um comerciante de têxteis que usou sua grande riqueza para se tornar uma das maiores colecionadoras de arte moderna do início do século XX. Ao lado de Mary Quinn Sullivan e Abby Aldrich Rockefeller, ela ajudou a fundar o Museu de Arte Moderna de Manhattan. Após sua morte em 1931, The Lillie P. Bliss Bequest entregou grande parte de sua impressionante coleção de arte ao MoMA. Três obras desse acervo tiveram que ser vendidas para que o MoMA pudesse adquirir “The Starry Night”. Com isso, desde 1941, a obra mais famosa de Vincent Van Gogh faz parte da coleção permanente do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York). Seu preço estimado é de cerca de 900 milhões de dólares, mas seu valor é incalculável.

Que essa obra e sua fusão cósmica sirva de inspiração para preencher a vida de todos com muita energia positiva! Se tiver uma boa história para compartilhar, por favor lembre de mim. Aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.


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