23/02/2022 - 12:17
Poucos artistas conseguem captar a natureza e, entre todos que se aventuraram nesse estilo, os impressionistas são os melhores. Pintar as nuances da luminosidade é uma das técnicas mais complexas e os franceses foram indubitavelmente os campeões. Os quadros são um deleite para quem os observa, marcando para sempre a nossa memória. O verão e é glorioso. Enquanto o sol quente dá ao mundo um belo brilho e multidões se aglomeram nas praias, a coluna de hoje faz um passeio pela arte para apresentar dez pinturas de impressionistas sobre o tema:
1-“Mulher com Sombrinha – Madame Monet e seu filho”, de Claude Monet (1875)
Monet era um mestre em retratar a luz. Suas pinturas ao ar livre são marcantes e suas pinceladas desestruturadas hipnotizam o observador, levando-o para dentro do quadro. Muitas de suas pinturas mostram sua esposa, Camille. Essa pintura é uma das mais conhecidas e mostra uma campina ensolarada de Argenteuil, região no subúrbio de Paris frequentada por sua família de 1872 a 1878. O quadro é uma interpretação despreocupada da natureza feita por um pintor tão preocupado com detalhes a ponto de dizer que gostaria de pintar “como um pássaro canta”.
2-“La Grenoillère”, de Claude Monet (1869)
Essa pintura foi feita alguns anos do movimento Impressionista começar oficialmente (1872), mas já tem elementos do estilo, com pinceladas largas, meio soltas e um ar de mistério. Mostra um popular resort náutico localizado nos arredores de Paris. A pintura foi produzida a partir de uma paleta de cores vivas e captura os efeitos fugazes da luz na água de uma maneira magnífica.
3-“Almoço dos Barqueiros”, de Pierre-Auguste Renoir (1880-1881)
Durante o final do século XIX, os passeios de barco eram o passatempo favorito entre os artistas parisienses. Renoir imortalizou esse costume nessa obra, que é uma de suas pinturas mais célebres, considerada a melhor peça da 7ª Exibição Impressionista de 1882. Mostra uma combinação de natureza-morta, com paisagem e personagens que estão na varanda ensolarada do Maison Fournaise, um restaurante que oferecia aluguel de barcos naquela época. Como de costume, um grupo de amigos de Renoir atuaram como modelos para ajudar na composição da obra, lembrando que o pintor não tinha recursos na época para pagar modelos. Note que o corrimão em diagonal serve para dividir as duas metades da composição, sendo que uma registra muitas pessoas e a outra apenas o verde. Renoir também capta uma imensa quantidade de luz entrando na varanda, ao lado do homem com chapéu. As camisetas sem mangas e a tolha refletem brilho que se espalha pela composição.
4-“Caminhada pelo Penhasco em Pourville”, de Claude Monet (1882)
Como sempre, Monet, que era um grande amante da natureza, encontrou ampla inspiração artística em Pourville, uma comuna no interior da Normandia. Ele gostava do local e sobretudo dos penhascos cobertos de flores. A pintura retrata duas mulheres (provavelmente sua segunda esposa, Alice, com sua filha) explorando os cantos e recantos encantadores dessa ensolarada cidade litorânea. Monet passou uma temporada de alguns meses nessa cidade. Vários elementos da pintura são unificados pelas pinceladas. Note que a grama, o penhasco, o céu e o mar fazem um conjunto, sem divisão ou um limite nítido. O vento e o movimento da cena são transmitidos com as pinceladas fortes, estrategicamente posicionadas para ressaltar o verão e equilibrar as proporções da composição. Recentemente, técnicos usaram um raio-x na pintura e descobriram que o penhasco secundário foi uma adição tardia à tela, pois não fazia parte do projeto original.
5-“Homem na Varanda, Boulevard Haussmann”, de Gustave Caillebotte (1880)
Apesar de os artistas impressionistas serem conhecidos pelo interesse em pintar ao ar livre, nem todas as obras acontecem do lado de fora das casas. Essa obra de Caillebotte, é um bom exemplo disso. Embora mostre um homem na varanda de um apartamento, ela destaca a rua ensolarada e extremamente arborizada, com flores coloridas, grades intrincadas e toldos listrados que eram comum nas sacadas parisienses do século XIX. O pintor morava nessa região de Paris e pintou várias vezes a sua varanda. Seus personagens sempre estão pensativos e absorvidos pela natureza do lado de fora. Essa composição única e resume a capacidade do impressionista de celebrar o verão em todas as suas formas, tanto ao ar livre como dentro de casa.
6-“O Balanço”, de Pierre-Auguste Renoir (1876)
Essa obra é um instantâneo de Jeanne Samary, uma das modelos favoritas do artista, e Edmong (irmão de Renoir) e do amigo Norbert Goeneutte. Apesar dos personagens, o foco da pintura está na verdade na atmosfera – especialmente os efeitos da luz. Renoir captura os efeitos da luz do sol nas folhagens. A luz trêmula é representada pelas manchas de cor pálida, principalmente nas roupas e no chão. Isso incomodou os críticos quando a pintura foi exibida em uma exposição impressionista de 1877. Interessante que o comprador da pintura na época foi justamente outro pintor: Gustave Caillebotte. Atualmente, a obra faz parte do acervo do Museu D´Orsay.
7-“O Baile no Moulin de La Galette”, de Pierre-Auguste Renoir (1876)
Essa obra-prima é um marco do movimento Impressionista. Mostra várias pessoas aproveitando uma tarde ensolarada em Paris. O estudo da multidão em movimento, banhado por luz natural e artificial, é feito com pinceladas vibrantes e de cores vivas para retratar a vida popular parisiense da época, com seu estilo inovador e formato imponente. Foi inspirada em uma das tardes de domingo de Moulin de La Galette, um local bem animado de Paris, localizado na região de Montmartre. Vários amigos de Renoir pousaram como modelos para ajudar na produção da pintura, feita ao ar livre para retratar a frescura, o clima alegre e o entusiasmo das pessoas com o dia ensolarado e com o ambiente de festa. A tela mostra cor e brilho nos rostos e roupas, mostrando luminosidade entre as sombras das árvores. O traço rápido de Renoir consegue fixar o tempo, sem perder absolutamente nada da intensidade e da excitação do momento. Quem olha a cena também fica com a sensação de que quase consegue ouvir a música ou as vozes das pessoas se divertindo. Um espetáculo em todos os detalhes.
8-“Canoa sobre o Epte”, de Claude Monet (1890)
Essa pintura faz parte do acero do MASP. Mostra um passeio de barco no rio Epte, que fazia fronteira com a propriedade de Monet, localizada em Giverny (arredores de Paris). A obra teve um grande estudo preliminar para transmitir os movimentos da água, seus reflexos luminosos e a vegetação ondulante. O enquadramento da canoa foi inspirado no trabalho de um amigo fotógrafo, que começou a testar na época estilos inusitados. Monet retrata a materialidade, sendo que essa nova dimensão visual da água só foi obtida novamente por ele trinta anos depois, em suas pinturas do período de 1918 a 1924. As irmãs Suzanne e Blanche posaram para esta série de pinturas, patrocinada pelo pai das moças, o banqueiro Ernest Hoschedé. Obras semelhantes dessa mesma série encontram-se no Museu d’Orsay (Paris).
9- “A Colheita”, de Vicent van Gogh (1888)
Van Gogh era apaixonado pelo calor, pelas noites estreladas e pela luz dos girassóis. “A Colheita” é uma de suas mais belas pinturas, produzida sob o sol escaldante do meio-dia. Ele escreveu para seu irmão para contar como foi essa experiência depois de voltar dos campos: “meu cérebro está tão cansado”. Ele explicou: “A mente de alguém está extremamente esticada, como um ator no palco em um papel difícil”. A pintura é ambientada nos campos a nordeste da cidade de Arles. Um carrinho azul, esperando outra carga de trigo recém-cortado, repousa bem no centro da composição. As casas chamam a atenção para a torre distante nas colinas à esquerda. As cores ricas dos campos de trigo dourados brilham sob um céu turquesa profundo. Van Gogh iniciou o projeto desse quadro com um estudo feito em aquarela, que ele enviou para sua irmã Wil. É interessante notar as mudanças introduzidas na pintura final, produzida com tinta a óleo. Van Gogh estava orgulhoso e acreditava que era a melhor entre suas pinturas recentes. “Isso absolutamente mata todo o resto”, escreveu ao irmão quando envio o quadro para sua casa. Theo adorou a paisagem e imediatamente a pendurou acima do piano na sala de estar, no principal lugar de seu apartamento.
10-“A Festa do Barco”, de Mary Cassatt (1893-1894)
Enquanto os franceses produziam seus quadros impressionistas, a americana Mary Cassatt criava essa pintura, apresentando uma mãe e seu bebê ao lado de um homem num barquinho. Note a diferença de cores entre os personagens e a abordagem com visão de futuro para a arte, caracterizada por sua propensão para cores exageradas e uso de formas soltas, mas refinadas, resultado da influência japonesa. Essa obra é interessante também porque parece mostrar o verão, mas na realidade foi produzida durante o inverno de 1893, na Riviera Francesa, período que estava de férias com sua mãe para descansar após a entrega de um grande mural para a Exposição Mundial de Chicago. Essa composição é ousada e revela diferentes planos de tela, desmoronando a sensação de distância. O barco em posição oblíqua confunde quem olha com sua geometria arrojada. A obra foi a peça central da primeira exposição individual de Cassatt nos Estados Unidos, em 1895. Apesar de nascer na Pensilvânia, a artista morou grande parte de sua vida na França. Era muito amiga de Edgar Degas e de diversos artistas impressionistas que influenciaram seu trabalho. Foi uma das primeiras feministas e defensoras da igualdade entre gêneros.
Para quem desejar continuar na viagem pela arte e pelas imagens de verão, vale a pena ver “Harvesters” de Pieter Bruegel (1565), “Mulheres na Praia” de Paul Gauguin (1893), “Breakfast in the Green” de Édouard Manet (1863), “Domingo à tarde na Ilha de La Grande Jatte” por Georges Seurat (1884), “Watermelon” de Yayoi Kusama (1929) “Second Story Sunlight” de Edward Hopper (1960), “A Bigger Splash” de David Hockney (1967) e “Beach Umbrella” de David Hockney (1971). Se desejar saber mais sobre um artista ou se tiver uma boa história sobre arte para me contar, aguardo contato pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou Twitter.