A minissérie “Justiça” estreou na segunda-feira 22 com a ambição de renovar o formato – e não apenas sob o ponto de vista narrativo. O primeiro episódio mostrou como a personagem Isabela (Mariana Ruy Barbosa) foi morta pelo noivo Vicente (Jesuíta Barbosa) e o desejo de vingança que a mãe da vítima, Elisa (Débora Bloch), alimentou durante os sete anos em que o assassino cumpriu pena. Exibido sem intervalos comerciais, o capítulo de estreia terminou com a locução de Fernanda Montenegro anunciando que a história de Vicente continua na próxima segunda-feira – embora a minissérie continue sendo exibida nos outros dias da semana. Assim a autora, Manuela Dias, rompe com a tradicional narrativa linear, compondo sua trama como um caleidoscópio em que quatro diferentes núcleos, todos ligados por crimes cometidos numa mesma noite no Recife, se conectam quase aleatoriamente.
O primeiro momento em que os quatro acusados se veem lado a lado é exatamente na delegacia de polícia onde cada um aguarda sua vez de ser fichado. Ao contar as quatro histórias de forma independente, ainda que com sutis pontos de interação, a autora faz mais que compor um interessante mosaico da sociedade contemporânea, recurso tão bem explorado por outros autores da teledramaturgia brasileira.
Em “Justiça”, as histórias se tangenciam não apenas para evidenciar diferentes extratos sociais, mas para demonstrar como os valores morais de cada personagem são construídos – e como eles determinam seus comportamentos a partir de uma situação limite. Não por acaso, a personagem de Débora Bloch cita a famosa afirmação de Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”.
O recurso não é inédito (o diretor Robert Altman montou assim seu ótimo “Short Cuts – Cenas da Vida”, de 1993) mas ainda estava para ser testado em uma minissérie. Para o espectador, a divisão da narrativa em episódios independentes aumenta a expectativa sobre o que virá – alimentando assim outra das novidades de “Justiça”, que é sua existência fora da caixa da TV. Pela primeira vez, o aplicativo Globo Play disponibilizou os primeiros capítulos antes da estreia. O resultado ajudou a emissora a atingir um dos desafios da minissérie: impulsionar a audiência em formatos digitais. Nas redes sociais, “Justiça” ficou entre os assuntos mais comentados na segunda-feira 22. Para alimentar ainda mais esse interesse, a Globo criou um o inédito “Visão 360”, que mostra os diferentes pontos de vista da trama por dia de exibição (para assistir, clique AQUI). Afinal, em “Justiça”, o formato e a história estão intimamente ligados. E isso é muito bom.