01/07/2016 - 19:00
PARRTIFICIAL/ Museu da imagem e do Som-SP/ Até 24/7
Integrante da Magnum Photos desde os anos 90, Martin Parr é considerado um dos fotógrafos contemporâneos mais influentes do mundo. Sua fotografia ganhou repercussão mundial com as cenas triviais clicadas nas areias escaldantes da América Latina e nas melancólicas praias europeias, mas seu olhar para o discreto charme da banalidade começa antes disso, nos início dos anos 70, ao documentar o estilo de vida britânico. A irresistível atração do que há de mais saborosamente ridículo, patético e grotesco da vida cotidiana está descrita em Parrtificial, que reúne no MIS-SP cerca de 240 imagens do fotografo britânico.
O curador Iatã Cannabrava aponta em seu texto curatorial que Martin Parr teve como referência a fotografia documental de feras como Henri Cartier-Bresson e Robert Frank. Mas apesar de ter flertado com o documentarismo clássico, ele foi pioneiro ao assumir a fotografia em cores. Ao “escapar” do P&B, inaugurou uma fotografia menos romântica do que a praticada por muitos de seus contemporâneos. Sob a luz dessa nova fotografia documental inglesa, quanto mais banal é a cena retratada, mais bizarra ela é.
Se, no início da carreira, o interesse de Parr se restringia ao quintal de sua casa, registrando as corridas de cavalos, o culto à Rainha e as feiras nacionalistas – em fotos reunidas recentemente no livro “We Love Britain!”, de 2014 –, logo seu olhar se voltou para a indústria das viagens e do turismo do outro lado do Canal da Mancha. Em séries como “Home and Abroad” (2003), “Small World” (1995) e “Life’s Beach” (2013), ele explora os parques temáticos, os shopping centers, os sítios históricos e os resorts à beira-mar. Muito antes da existência dos selfies, ataca com ironia a voracidade da fotografia turística e a compulsão ao autorretrato.
O mundo dos artifícios, da diversão e do entretenimento, visado pelo humor ácido de Martin Parr, encontra ressonância direta nos ambientes artificialmente compostos para receber a mostra no Museu da Imagem e do Som. Esse partido que o museu adotou pela montagem cenográfica de suas exposições – altamente questionável em mostras como a retrospectiva do cineasta Jorge Bodansky, em cartaz no segundo andar, na medida em que corre o risco de reduzir a obra artística a um quadro na parede – assume aqui outra dimensão. Afinal, a parafernália kitsch e mundana da fotografia de Parr encontra sua mais perfeita continuidade na direção de arte de Ekaterina Kholmogorova e no parque temático da montagem. Até praia de areia há no MIS.
Outro partido interessante da curadoria é o núcleo Bookshop, que reúne em vitrines algumas dezenas de publicações originais – com versões integrais digitalizadas em vídeos à disposição do público –, dando ao livro a devida importância que teve como suporte, nas cinco décadas de fotografia de Parr.