A política de abertura do Irã prosseguirá mesmo que Donald Trump alimente “um clima de tensão”, afirmou, em uma entrevista à AFP, o primeiro vice-presidente Es Hagh Jahanguiri, candidato reformador às presidenciais de 19 de maio.

“Nosso governo tomou o caminho certo rumo ao entendimento com o mundo: solucionamos o problema nuclear, estabilizamos a economia e a esperança voltou. Este caminho não deve parar aqui”, declarou Jahanguiri.

Este candidato otimista de 60 anos, engenheiro e físico de formação, pensa que “os iranianos vão votar” neste sentido.

Mas a situação continuará sendo complicada após a eleição, já que “o clima de tensão criado por Donald Trump influenciou os bancos europeus e inclusive os asiáticos, impedindo a realização dos acordos” de financiamento de projetos no Irã e os investimentos diretos, lamenta.

Estes projetos foram colocados em andamento após a entrada em vigor em janeiro de 2016 do acordo nuclear com as grandes potências – Estados Unidos, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha – assinado em julho de 2015.

Os grandes bancos internacionais ainda temem cooperar com o Irã por medo de sanções, mas também pela adoção de novas sanções por parte dos Estados Unidos, somadas às já existentes e reforçadas pela administração Trump.

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Embora o presidente Trump devesse, no máximo até junho, restabelecer as sanções nucleares, atualmente suspensas, isso seria “um duro golpe contra o acordo nuclear e”, por extensão, para a economia iraniana, previne Jahanguiri.

Mas diz esperar que “os países europeus, China e Rússia não permitam que os Estados Unidos perturbem a aplicação do acordo nuclear”.

Jahanguiri reconhece as dificuldades existentes no Irã, em especial “a situação preocupante do desemprego”, que afeta 12,5% da população economicamente ativa e 27% dos jovens.

Além disso, o objetivo esperado pelo presidente Hassan Rohani de 50 bilhões de dólares de investimentos estrangeiros ao ano para relançar a economia ainda está longe de ser alcançado.

Embora as promessas de investimentos diretos sejam de 11 bilhões de dólares, “o número real (…) se situa em um ou dois bilhões de dólares”, segundo ele.

Os meios de comunicação apresentam Jahanguiri como um “candidato de apoio” a Hassan Rohani, que se apresenta a um segundo mandato. Portanto, não descarta uma retirada antes do primeiro turno de 19 de maio.

– Possível retirada –

“Temos poucas divergências” com o presidente Rohani, um religioso moderado aliado dos reformistas e candidato a um último mandato de quatro anos. “É preciso ver por quem as pessoas se decantam”, mas está “90% (certo) de que só restará um dos dois em disputa”.

Em relação aos obstáculos à aplicação das promessas do governo por maiores liberdades políticas, culturais e sociais, Jahanguiri se sente otimista.

“O caminho para alcançar nosso objetivo talvez seja difícil: diferentes pessoas com diferentes posições políticas estão no comando nos demais organismos do país”, afirma, em referência, em particular, ao forte poder judiciário.

Mas, segundo ele, “é preciso comparar a situação de hoje com a de antes de 2013”, quando Rohani foi eleito. “Em relação às liberdades, (a situação) é melhor nas universidades, na imprensa, no âmbito cultural”, afirma.


Jahanguiri defende igualmente o desenvolvimento das redes sociais, apesar da resistência de alguns meios de comunicação conservadores. “Todos querem usá-las para transmitir sua mensagem, mas outros não querem que sejam usadas e criam problemas”, argumenta.

“Os iranianos sabem se adaptar. Quando proibimos algo, encontram a maneira de burlar. Pode ser que o Twitter tenha sido proibido, mas resistimos e o Telegram ou o Instagram são livres”, afirma.

Mais de 25 milhões dos 80 milhões de iranianos utilizam estas duas redes sociais.

“Desenvolvemos as infraestruturas para um acesso rápido à internet”, comenta este candidato, que acredita que as promessas possam ser solucionadas “através do diálogo e sem o confronto desnecessário”.


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