O vice-ministro do Interior da Bolívia, Rodolfo Illanes, sequestrado por mineiros que bloqueavam uma estrada, foi assassinado por seus captores, informou na quinta-feira o ministro de Governo, Carlos Romero.

“Todos os indícios apontam que nosso vice-ministro Rodolfo Illanes foi covarde e brutalmente assassinado”, assinalou Romero em entrevista coletiva.

A notícia do assassinato deixou o presidente Evo Morales “profundamente comovido”, informou o ministro da Defesa, Reymi Ferreira.

Nesta sexta-feira, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, expressou sua solidariedade pelo assassinato de Illanes, que classificou como “brutal, doloroso e criminoso”.

“Falei com nosso irmão Evo Morales para transmiti-lo nossa solidariedade e nosso apoio de sempre diante dos confrontos de setores que enlouquecem e buscam a morte pela via da violência e o conflito”, disse Maduro durante um ato oficial transmitido pela emissora do governo.

Illanes foi ao local do bloqueio, na altura da cidade de Panduro, para negociar com os mineiros, que têm demandas trabalhistas.

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“O vice-ministro estava convencido de que diante do conhecimento que tinha com alguns dirigentes poderia persuadi-los e iniciar um diálogo com o governo (..) mas foi interceptado por mineiros e levado para um morro”, revelou Romero.

Reymi Ferreira informou que “há entre 100 e 120 detidos” ligados ao crime e que “já foram identificados os cabeças” do grupo que matou Illanes “com pancadas”.

“Este ato não pode ficar impune, serão punidos judicialmente”, declarou Ferreira.

O segurança de Illanes conseguiu fugir dos mineiros e foi atendido em um hospital de La Paz.

“Foi humilhado, torturado e espancado até a morte, pela informação que temos”, acrescentou Ferreira, que negou ter enviado militares para recuperar o corpo do vice-ministro assassinado.

“Estamos tentando primeiro através do diálogo recuperar o corpo do dr. Illanes”, explicou.

Protegido pelos companheiros

Illanes, um advogado de 56 anos que assumiu o cargo em março deste ano, tentou de todas as formas acalmar os mineiros, que nos últimos dias realizam violentos protestos contra as reformas da lei de cooperativas.

Segundo o ministro Romero, os mineiros, na realidade, tentam conseguir autorização para alugar suas concessões de mineração a empresas privadas ou estrangeiras, o que é expressamente proibido pela Constituição.

Além disso, buscavam acumular mais espaços de poder no Executivo, segundo o ministro.

“Os que protestam são cooperativistas comprometidos com transnacionais”, denunciou.


A imprensa divulgou o conteúdo de 36 contratos desse tipo firmados pelos mineiros.

O procurador-geral Ramiro Guerrero informou que cinco promotores foram enviados a Panduro, 100 km a oeste de La Paz.

No início da tarde de quinta-feira, após o anúncio do sequestro, Illanes havia informado por telefone a jornalistas que estava “muito bem de saúde”, e pediu que “tranquilizassem” sua família. “Estou sentado aqui, protegido pelos companheiros para que ninguém me machuque”.

Mas, algum tempo depois, o jornalista Moisés Flores, diretor da rádio Fedecomín, da cooperativa dos mineiros, viu o corpo do vice-ministro sem vida.

Os mineiros, agrupados em cooperativas privadas, tomaram as estradas na segunda-feira, exigindo a libertação de dez detidos sob acusação de atentar contra a vida de policiais e contra bens do Estado. A acusação remete a confrontos esporádicos ocorridos no início de agosto.

Eles também exigem negociar diretamente com o presidente Evo Morales, seu aliado político, um documento setorial rejeitado de antemão pelo governo.

Esse coletivo ocupa importantes cargos no Executivo, em uma Superintendência do ramo e no Congresso, onde conta com senadores e deputados.

No pior dia de violência, quarta-feira, houve duas mortes por parte dos mineiros em estradas de Cochabamba, segundo a Federação Nacional de Cooperativas de Mineiros (Fencomin).

A possibilidade de iniciar negociações, abertas por gestões da Defensoria do Povo, havia fracassado na quinta, devido às mortes na categoria.

Depois de três dias de confrontos esporádicos com a polícia pelo controle das estradas, no final da tarde de quinta os mineiros haviam acertado com o governo o início de uma negociação para esta sexta, sob a condição de que os bloqueios fossem levantados.

Nos confrontos registrados nos últimos três dias, 20 policiais ficaram feridos e dois permanecem sequestrados pelos mineiros de Cochabamba (centro), segundo dados oficiais.


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