Quando foi convidado para dirigir Ghost – O Musical, que estreia dia 8 de setembro, no Teatro Bradesco, o experiente José Possi Neto sentiu uma leve inclinação para não aceitar, mas, ao perceber que poderia trabalhar segundo seu estilo, ou seja, trazendo aspectos brasileiros para a encenação, ele decidiu dizer ‘sim’. “É uma história envolvendo espíritos, mas sob o ponto de vista norte-americano, que é diferente do nosso”, comenta. “Assim, acrescentei elementos afro-brasileiros, que são mais próximos da nossa cultura.”

O jornal O Estado de S. Paulo acompanhou um ensaio do espetáculo, no qual foi possível detectar as impressões digitais do encenador. Antes, convém refrescar a memória: o musical é inspirado no filme Ghost – Do Outro Lado da Vida, dirigido em 1990 por Jerry Zucker e estrelado por Patrick Swayze, Demi Moore e Whoopi Goldberg, que faturou o Oscar de coadjuvante. O sucesso foi tamanho que inspirou uma versão para a Broadway em 2011, com letras de Bruce Joel Rubin e melodia de Dave Stewart e Glen Ballard. E não faltou a canção que se tornou símbolo da história, Unchained Melody.

No palco, a trama é a mesma. Sam Wheat (André Loddi) e Molly Jensen (Giulia Nadruz) formam o casal perfeito, a ponto de conseguirem morar em um adorável apartamento. Ele, homem de negócios; ela, artista plástica. Sam confia cegamente no amigo Carl Bruner (Igor Miranda), seu braço direito na empresa, sem saber que ele prepara uma ardilosa traição. O plano, porém, acaba em tragédia, com Sam assassinado.

“Logo no início do espetáculo, percebi que era necessário reforçar a ideia de um discreto ménage à trois, para mostrar como Carl não passa de um canalha”, observa Possi. “Isso torna o espetáculo mais atual, pois vivemos um momento também marcado por traições de pessoas interessadas no dinheiro do outro e por mortes inconsequentes.”

O viés contemporâneo também inspirou o elenco. “Carl é o vampiro da relação entre Sam e Molly”, comenta Igor Miranda. “Ele perde a noção do valor da vida, mas é um vilão delicado. A linguagem desse musical foge do entretenimento – é mais denso e tem mais emoção.”

De fato, sob a condução de Possi, a trama ganha mais sentimento. “É um grande desafio, pois há muitas cenas de tensão, mas a gente não pode perder a técnica”, comprova André Loddi que, apesar da pouca idade, já é experiente em musicais. “Para compor o papel, li muito sobre espiritismo e descobri que, quando alguém morre de uma forma muito rápida, seu espírito demora para aceitar e, por isso, não abandona o corpo.”

É o que acontece com Sam. Mesmo em outra dimensão, ele continua ao lado de Molly, tentando protegê-la dos planos maléficos de Carl. E a aproximação se torna quase tátil com a chegada de Oda Mae Brown (Ludmillah Anjos), uma vigarista que finge ser médium até perceber que realmente é, ao ouvir os chamados de Sam. “É importante lembrar que não caímos na apelação, mas tratamos do assunto de forma respeitosa”, reforça Giulia Nadruz.

O humor que consagrou Whoopi Goldberg promete se repetir na interpretação festiva de Ludmillah, atriz baiana que foi incentivada a fazer o teste para o papel por Tiago Abravanel, seu fã declarado. Realmente, Ludmillah revela uma energia contagiante, além de um humor afiado. “Na Bahia, o espiritismo faz parte da nossa rotina. De tal forma que já recebi, na rua, uma filipeta convocando para conhecer uma mãe de santo que tinha, como ilustração, a Iemanjá com o rosto da Beyoncé.”

“Gosto dessa forma de trabalhar, sem me preocupar com o realismo”, conta Possi. Na peça, ele precisa conciliar a atuação dos atores com efeitos especiais, capazes de mostrar, por exemplo, Sam observando o próprio corpo já morto e a passagem de um vagão do metrô para o outro. “Fomos até a China, onde foram produzidos os melhores efeitos”, conta o produtor geral Ricardo Marques, da empresa 4ACT Entretenimento, responsável pelo espetáculo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.