A Universidade de São Paulo é a melhor e maior instituição pública de ensino superior da América Latina. Foi criada em 1934 por intelectuais brasileiros e franceses, todos donos de notório saber, com três objetivos principais: criar elites dirigentes para as áreas administrativas do País diante de um Estado expansivo e totalitário posto em prática por Getúlio Vargas; formar professores para as escolas secundárias; estimular universitários a seguirem a carreira acadêmica, pela meritocracia, organizando assim quadros para a própria universidade dispostos a pensarem um modelo sociológico e político (sempre democrático) para o Brasil. Atualmente a USP possui cerca de quinhentos cursos, e acaba de aderir ao sistema de cotas social e racial.

Em um Brasil onde a desigualdade e a não-democracia social se aprofundam cada vez mais (há indivíduos privilegiados e há indivíduos marginalizados, já no ventre gestante da mãe), o recurso de cotas não pode deixar de ser bem recepcionado. É vital, no entanto, que o vejamos como um simples curativo para a descomunal ferida que é o abandono do ensino médio público por parte das autoridades. O risco que se corre, com a implantação de cotas na USP, é que os governos se valham espertamente delas e joguem de vez às traças o ensino médio que eles têm o dever constitucional de fornecer com alta qualidade e de forma gratuita. Mais: se os universitários cotistas não acompanharem o alto padrão de ensino da USP, ela abrirá mão de sua excelência? Esse sucateamento seria péssimo ao País. Se o nível for mantido, os alunos das cotas serão segregados pelos colegas? Isso é igualmente péssimo porque se estaria criando mais um estigma nesse País lotado de estigmas.

A solução para tudo isso deve ser pensada. Nos EUA, por exemplo, a Suprema Corte decidiu que a cota racial não fere o princípio da isonomia. O resultado foi de quatro votos a três, com a juíza liberal Elena Kagan se dando por impedida porque participara do governo de Barack Obama e o juiz Anthony Kennedy, conservador, surpreendendo a todos ao dizer sim às cotas. É importante destacar a aula de democracia que ele nos dá: a inclusão social e racial não se conquista somente com a reserva de vagas para uma determinada quantidade de alunos pobres e negros.

É necessário que a própria instituição mantenha uma política de integração. Aqui no Brasil já assistimos à pseudo-democratização do ensino durante o regime militar, com a proliferação de fraquíssimas faculdades particulares.

É claro que quanto mais gente concluir cursos superiores tanto melhor para a sociedade. Mas esses cursos têm de ser avaliados pela qualidade das aulas e não somente pela quantidade de cotistas no corpo discente.

A sentença do juiz conservador Anthony Kennedy, da Suprema Corte dos EUA, é aula de democracia: a inclusão social não se conquista só pelas cotas

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