Até 21 de agosto, os maiores atletas do mundo desfilarão pelas pistas de atletismo, piscinas e arenas esportivas do Rio de Janeiro, dando exemplos de superação, dedicação e perseverança. Como em todas as olimpíadas, surgirão heróis que emocionarão o mundo. Nesse período, ao que tudo indica, o Brasil poderá viver uma pequena trégua em sua guerra política que se arrasta há quase dois anos.

No entanto, quando os maratonistas entrarem no estádio olímpico, na última competição dos jogos, o Brasil voltará à sua triste e dura realidade. Terá que enfrentar, por exemplo, a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vem sendo empurrada com a barriga pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e a votação, em plenário, do impeachment de Dilma Rousseff. Aliados do presidente interino Michel Temer querem adiar a votação de Cunha, temendo possíveis revelações do novo homem-bomba de Brasília.

Se isso não bastasse, novos escândalos virão à tona com as delações que estão saindo do forno. Na quinta-feira 4, Marcelo Odebrecht, preso há mais de um ano, prestou seu primeiro depoimento. Durou dez horas. Depois dele, outros 50 executivos da maior empreiteira do País falarão. Já se sabe que serão atingidos 13 governadores, 35 senadores e dezenas de prefeitos de grandes capitais. Paralelamente, será feita a delação de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, de idêntico potencial explosivo. Se haverá mesmo um legado olímpico no Rio de Janeiro, poucos sabem quem ficará de pé na política brasileira.

Caso o impeachment seja aprovado, entre o fim de agosto e o início de setembro, o foco do noticiário passará da política para a economia. Da equipe liderada por Henrique Meirelles será cobrada a conta de todas as bondades” feitas nos últimos meses, que estão deixando um rastro de bilhões em novas despesas. Aumentos para diversas categorias do funcionalismo federal geraram pedidos de equiparação nos estados e uma das consequências foi a greve da Polícia Civil do Distrito Federal, em plena Olimpíada. Ou seja: a interinidade gerou uma avalanche de novas despesas e, depois do impeachment, aprovado ou não, virá um tempo de arrocho, cortes de benefícios sociais e, eventualmente, mais impostos.

Reformas prometidas, como a da previdência e a trabalhista, serão adiadas para depois das eleições municipais, cuja campanha se inicia oficialmente em 16 de agosto. Portanto, é grande a possibilidade de que nenhum ajuste estrutural ocorra na economia brasileira antes de 2017. Depois de encerrada a festa olímpica, o quadro que se desenha para o Brasil é de convulsão social, econômica e política, fruto da combinação de baixo crescimento e desequilíbrio fiscal.