Mesmo em meio à maior crise política de sua gestão, que culminou na saída do principal articulador do Planalto com o Congresso Nacional, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o presidente Michel Temer demonstrou que segue intacta sua principal faceta: a de regente do Parlamento. Depois de cinco horas de debates e manobras protelatórias por parte da oposição, que fez o jogo do “quanto pior, melhor”, o Senado aprovou em primeiro turno a Proposta de Emenda à Constituição 55, também chamada de PEC do Teto dos Gastos. A medida é essencial para recolocar a economia nos trilhos. O placar foi parecido com o do impeachment de Dilma Rousseff: 61 votos a favor. Apenas 14 senadores votaram contra. No afastamento definitivo da presidente, foram 20 contrários. Agora, bastam 49 votos em segundo turno, prevista para o dia 13, para que a matéria que limita por 20 anos as despesas do governo, de acordo com os índices da inflacão, seja finalmente encaminhada ao Palácio do Planalto para a sanção presidencial.

Até agora, o governo Temer protagonizou uma demonstração de força ao não permitir que os abalos que atingiram o Planalto atravessassem a Praça dos Três Poderes rumo ao Congresso Nacional. Esse tipo de barreira foi justamente o que a ex-presidente Dilma Rousseff não conseguiu impor durante seu segundo mandato, o que acabou levando a uma metástase generalizada da crise, culminando na completa ingovernabilidade.

Vitória folgada

Apesar de atravessar uma semana tensa, com as denúncias do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, de que sofreu pressão de Geddel para aprovar a construção de um prédio em Salvador, o governo soube contornar a crise e não deixar que a renúncia do articulador desmobilizasse sua tropa de choque no Senado.

Como tem feito com frequência, a oposição tentou atrapalhar o andamento dos trabalhos. Primeiro, franqueou a entrada da presidente da Confederação das Mulheres do Brasil, Gláucia Morelli, no interior do Congresso. Ela começou a proferir palavras de ordem, retardando o início da votação. Foi preciso o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) determinar aos seguranças que a retirassem do plenário. Gláucia reclamava que os investimentos em saúde e educação seriam freados. Mito que foi devidamente esclarecido, já que as duas áreas só sofrerão o impacto da PEC em 2018.

Mesmo assim, os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PT-RS) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) tentavam embaraçar a sessão, que não pôde ser acompanhada pelo público nas galerias devido à invasão de Gláucia. Após serem vencidos com a aprovação da matéria principal, os três senadores trapalhões tentaram retardar ainda mais a votação ao ingressarem com os destaques. O primeiro retirava justamente Educação e Saúde do radar da PEC. Mas também foi rejeitado.
Incansáveis e dispostos a atrapalhar de qualquer maneira a votação, que àquela altura já atravessava a madrugada, os três senadores pediam para discursar na tribuna antes de cada votação. Mesmo entendendo a artimanha, Renan demonstrava tranquilidade. “Hoje saí de casa prometendo não me aborrecer com nada”, disse o presidente do Senado. A oposição ainda colocou em pauta o destaque que sugeria um referendo no País para saber se a PEC será aceita pela população. Novamente, a maioria dos senadores reprovou o destaque. Sob a batuta de Temer.

Influência mantida

Votação da PEC no Senado

A favor:
61 senadores

Contrários:
14 senadores

Votação do Impeachment de Dilma

A favor:
61 senadores

Contrários:
20 senadores