Em 1972, o regime militar que havia tomado o poder no País oito anos antes se apropriou  da comemoração dos 150 anos da Independência para promover o nacionalismo barato, varrendo para baixo do tapete a tortura de cidadãos e o assassinato de opositores. O ápice da propaganda foi a turnê dos restos mortais de Dom Pedro I pelas capitais brasileiras, organizada pelo general Emílio Garrastazu Médici. Segundo o ditado que diz que a história sempre se repete, mas como farsa, o presidente Jair Bolsonaro trouxe o coração de Dom Pedro I de Portugal para as comemorações deste ano.

É uma pena que o Bicentenário da Independência tenha caído sob esse governo. Líder medíocre sob qualquer aspecto que se analise, Bolsonaro aposta no patriotismo torpe porque não tem nada de positivo para celebrar em sua gestão. Na falta de competência, capacidade gerencial e mesmo criatividade, o presidente confirma sua indolência política ao optar, mais uma vez, pelo caminho mais fácil. Em vez de um evento que demandasse trabalho árduo e planejamento, como a restauração do novo Museu do Ipiranga, feita de forma exemplar pelo governo paulista e a USP, limitou-se a imitar os militares, a quem bajula e tenta cooptar com seu projeto golpista.

O pior momento da vexatória parada de Sete de Setembro foi ver o empresário Luciano Hang ocupar o lugar destinado ao presidente de Portugal

A parada cívico-militar de sete de setembro em Brasília, que teve pouco “cívico” e muito “militar”, foi vergonhosa em tantos níveis que fica difícil destacar o pior. Sem celebrar a data que diz respeito a todos os brasileiros, o candidato Bolsonaro fez um comício confuso e bizarro, com autoelogios a sua performance sexual e ameaças às eleições livres. Na tribuna, o empresário Luciano Hang surrupiou o lugar destinado ao presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa, que observava a caricata figura com merecido desprezo. É uma pena que o Brasil tenha se acostumado com gente desse nível.

Longe dos tanques obsoletos e do palanque, ocorria uma cena que representa com perfeição o Brasil de hoje. Um veículo ficou entalado na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília, residência oficial do presidente. O acidente não deixou vítimas, mas destruiu parte da marquise criada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, área que integra o patrimônio da humanidade. A imagem patética é a metáfora de um governo que faz de tudo para sabotar a cultura, mas que não consegue manobrar um simples furgão.