Nada indica que nas próximas semanas a tensão política deva diminuir. As vitórias obtidas pelo presidente Michel Temer tiveram alto custo, como no recente julgamento no Tribunal Superior Eleitoral. Os cidadãos ficaram horrorizados com o contorcionismo jurídico da maioria dos ministros. Dias depois, o PSDB decidiu permanecer no governo, mas acabou se desgastando internamente e, principalmente, junto à opinião pública, pois ficou evidenciado que tudo não passou de uma troca de favores para garantir o mandato do senador Aécio Neves.

Novas delações premiadas vão trazer mais turbulência. E ainda temos a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer, provavelmente por três crimes: corrupção passiva, obstrução à justiça e formação de organização criminosa. A Constituição determina que cabe à Câmara dos Deputados conceder a autorização para que o Supremo Tribunal Federal possa apreciar a denúncia. É possível?

Hoje seria rejeitada. Mas não resolve o impasse, pois sinaliza que Temer receia que o STF receba a denúncia e, assim, ele manifesta uma confissão de culpa.

Temos um governo sitiado. E sitiado pelas acusações de corrupção numa escala nunca vista na história republicana, atingindo o Executivo e sua base parlamentar no Congresso Nacional. Resta a Temer desesperadamente associar a sua permanência na Presidência à aprovação das reformas. E por tabela levantar o fantasma do retorno do PT. Desta forma, releva a corrupção a um plano secundário. Como um Luís XV tupiniquim, proclama aos quatro ventos que, depois de mim, o dilúvio. Essa estratégia vai fracassar.

Há uma variável determinante que não controla: a Lava Jato. As contínuas tentativas de solapar as investigações não deram certo. De nada vai adiantar a substituição do ministro da Justiça. Temer quer transformar Torquato Jardim no seu Márcio Thomas Bastos. Imagina que 2017 é 2005, quando Lula se salvou — na crise do Mensalão — pela ação eficaz do seu ministro da Justiça. O presidente não entendeu que a crise é muito mais profunda na extensão temporal e na profundidade institucional. Manobras não resolvem. Pior, o patrocínio oficial de ações desmoralizadoras do Estado Democrático de Direito está levando o País a uma crise sistêmica. E, suprema ironia, tudo comandado por um jurista, um constitucionalista.

Temos um governo sitiado pelas acusações de corrupção numa escala nunca vista na história republicana, atingindo o Executivo e sua base parlamentar no Congresso Nacional

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