É um bom dia para se rever clássicos na Mostra. No vão livre do Masp, a programação que homenageia o centenário de Paulo Emílio Salles Gomes traz um dos filmes preferidos do importante crítico. Filho do pintor impressionista Auguste Renoir, Jean aprendeu a gostar de cinema desde garoto, mas direcionou-se para a cerâmica, como meio de expressão, e só ao voltar ferido para casa, após a 1.ª Grande Guerra, começou a se interessar de verdade pelo cinema.

Nos anos 1930, iniciou a fase de obras-primas – “Boudu Salvo das Águas”, “O Crime de M. Lange”, o inacabado “Une Partie de Campagne”. Em 1937, realiza “A Grande Ilusão”, e é a atração desta segunda-feira, 24, da Mostra. O próprio Renoir sempre admitiu a influência que teve sobre ele o ator e diretor Erich Von Stroheim. É um dos protagonistas de “La Grande Ilusion”. Dois soldados franceses são feitos prisioneiros pelos alemães na 1.ª Guerra. O aristocrático capitão Pierre Fresnay sente-se mais próximo do captor prussiano, o igualmente aristocrático Stroheim, que do seu comandado, Jean Gabin, que tem origem humilde. As afinidades de classes se estabelecem acima das diferenças nacionais, como bem observa Jean Tulard no “Dicionário de Cinema”. No desfecho desse clássico pacifista, a neve (a natureza) elimina as demarcações de fronteiras, que são criações humanas.

Mais dois clássicos, de Andrzej Wajda – “Terra Prometida”, de 1975, e “As Senhoritas de Wilko”, de 1979. Duas adaptações literárias, e ambas interpretadas por Daniel Olbrychski. “Terra Prometida” baseia-se no romance de Wladyslav Reymont, autor polonês que venceu o Nobel. Mostra o nascimento do capitalismo na Polônia. Três amigos montam uma fábrica, exploram trabalhadores. Explode a tensão social. Uma pedra jogada num salão, no desfecho, expõe conflitos inconciliáveis de classes – como em “A Grande Ilusão”. “As Senhoritas de Wilko”, do livro de Jaroslaw Iwaszkiewicz, mostra oficial que sofre com a morte de amigo no front e vai se recuperar na casa do tio, em que passou a juventude.

Reencontra as senhoritas do título. Bem jovem, ele se envolveu com todas. Uma morreu, e agora Daniel Olbryckski questiona-se sobre a vida, o amor. É um dos filmes mais líricos do Sr. Política, e foi indicado para o Oscar. De Marco Bellocchio, há, imperdível, o primeiro longa do autor, o operístico “De Punhos Cerrados”, de 1965. Jovem epilético quer matar a família. Jean Tulard, de novo ele, é definitivo – Bellocchio, ou a contestação transformada em arte cinematográfica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.