Durante toda a minha vida, a única referência de Late Show aqui no Brasil para qualquer pessoa era o Jô Soares. Claro que temos grandes entrevistadores, Marília Gabriela talvez seja o exemplo máximo disso, mas Late Show clássico, aquele com banda, plateia, piadas com atualidades, esse é o Jô. Eu realmente nunca fui pra cama sem ele. Ir ao Programa do Jô é o sonho de muita gente, como se simbolizasse a coroação de uma trajetória. É uma espécie de validação nacional de que você chegou lá, praticamente o ponto alto de uma vida. Jô era um comediante de muito sucesso na Rede Globo e ele abandonou tudo para ter seu programa de entrevistas no SBT. Se hoje isso é considerado arriscado, imagina na época em que a média da novela era 60 pontos, em que era a Globo e o resto.

Ele atingiu um patamar único para quem faz humor. Um comediante que passa credibilidade é coisa rara, um feito. Ele consegue brincar e falar sério numa mesma pergunta. São tantos anos de carreira e de sucesso que suas falas e trejeitos já fazem parte do inconsciente coletivo. E é aí que eu entro. A partir do dia 24 de agosto estreio o meu Late Show. Nunca fiz isso na vida e obviamente estou nervoso. Como imprimir ritmo, segurança, leveza e seriedade ao mesmo tempo? E como fazer tudo isso sem “copiar” o Jô? Já fiz alguns testes e ensaios e a vontade de fazer “uou!” assim que a banda para de tocar é imensa, por exemplo. Eu chego a visualizar o Bira na minha banda. O Jô está totalmente na minha veia. Ainda bem. Sinto que meu desafio hoje é mais suave, justamente porque tenho como referência a nossa maior referência. Tenho de encontrar meu próprio jeito de fazer e de comandar o programa, claro, mas não posso deixar de me influenciar pelo cara que me fez querer ser o que eu sou hoje.

Não falo isso com a pretensão de ser o próximo Jô, nem com a ilusão de superá-lo, falo com a apreensão de quem sabe que vai entrar num novo campo de batalha e que a luta vai ser dura. Vou tropeçar, vou gaguejar, mas tentando nunca perder a piada. Quero ter na minha cabeça sempre o pensamento: o que será que o Jô faria nesse momento? Mas seguido de outro pensamento: e o que eu faria? Eu serei eu mesmo. Esse é o segredo maior. Não mudarei minha personalidade nem meu jeito de falar. Mas se na estreia eu mandar um beijo do gordo, não estranhem, é porque talvez seja mais forte do que eu.