gente-06-ieO consultor político Gaudêncio Torquato, amigo e conselheiro do presidente Michel Temer há 30 anos, avalia que os resultados das eleições municipais ditarão os ajustes ministeriais que Temer poderá fazer até o fim do ano. “A tendência é termos um crescimento do PSDB e do PMDB nas prefeituras e isso deve influenciar na nova composição partidária do governo”, diz. Torquato. Coordenador do grupo informal que se reúne para auxiliar Temer na comunicação do governo, Torquato acredita que a nomeação o diplomata Alexandre Guido Parola como o porta-voz do governo, vai ajudar a regular os “desvios de linguagem” dos ministros.

ISTOÉ – Como as eleições municipais influenciarão possíveis ajustes no Ministério de Michel Temer até o fim do ano?
Torquato – Não acho que vai haver uma mudança radical, mas poderá haver um ou outro ajuste pontual, a depender desta nova moldura partidária que teremos a partir de domingo e no Segundo turno, no final de outubro. É previsível um ajuste ministerial. A eleição municipal vai formar a nova base do atual edifício político. A tendência é o PSDB e o PMDB crescerem após essa eleição. O PSDB vai fazer mais de 20 prefeitos nas 90 principais cidades do País. E o PMDB deve variar entre 18 e 20. PSB, PDT, DEM e PSD ficam em terceiro lugar nessa composição partidária, talvez com oito a 10 prefeitos. Isso evidentemente poderá redimensionar o quadro partidário, e os partidos da base aliada poderão querer redefinir os nomes de seus ministros no governo. O PSDB que mais vai ganhar mais prefeituras nas eleições,e evidentemente o partido vai ter uma fatia maior nesse latifúndio.

“Não é a comunicação que vai ajeitar as bobagens. É a gestão”

ISTOÉ – Como coordenador do grupo informal que auxilia o presidente na comunicação, o que acredita que está dando errado na comunicação no governo?
Gaudêncio Torquato – A comunicação virou uma panaceia, como se fosse a chave para resolver todos os problemas do governo. Não é bem assim. Falo como consultor de comunicação e professor de comunicação da USP. A comunicação é um sistema de meio. Quando ministros falam de maneira atropelada ou capenga, dizem bobagem, não é a comunicação que vai ajeitar as bobagens. É a gestão que trará estabilidade. Você pode colocar o melhor porta-voz do mundo, mas se houver problema na área da gestão, evidentemente que esse porta-voz não vai contribuir com nada. Todos sabem que eu coordeno um grupo informal de comunicação que auxilia o presidente. E é claro que esse grupo discute plano de comunicação. Já foi apresentado até por mim a esse grupo. O Plano de comunicação já existia no grupo de comunicação, não foi Eduardo Oinegue (jornalista e consultor de comunicação que recusou convite para ser porta-voz) que foi apresentar plano. O próprio Oinegue participava desse grupo, depois ele saiu.

“Os ministros passam cada qual a ter sua linguagem, às vezes desencontradas, porque o presidente Michel Temer deu autonomia aos ministros”

ISTOÉ – Ao que o sr. atribui as declarações inoportunas de alguns ministros?
Torquato – Nesse início é natural a desarmonia da linguagem do governo. É evidente que os ministros passam cada qual a ter sua linguagem, e muitas vezes desencontradas, porque muitas vezes o presidente Michel Temer, ao contrário do PT, deu autonomia aos seus ministros para que possam definir políticas públicas. O PT entregava cargos, mas não a decisão sobre políticas públicas.

“Michel está inaugurando um semi-parlamentarismo no Brasil”

ISTOÉ – E o presidente Temer está delegando isso?
Torquato – Michel está inaugurando um semi-parlamentarismo no Brasil. Ele quer governar com o parlamento. Ele quer governar de maneira compartilhada. O Mendonça Filho, por exemplo, tem toda a liberdade de promover esse tipo de ação na educação. Os ministros se sentem autônomos para definir suas áreas e isso, no início, cria um certo embaraço.

“Os ministros precisam ser mais cuidadosos no uso da palavra”

ISTOÉ – Mas a polêmica envolvendo o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, nas declarações em que antecipava atos da operação Lava Jato, não estava exatamente na esfera de um discurso sobre políticas públicas.
Torquato – Sim, mas veja bem, o que a comunicação ia melhorar o episódio do Alexandre Moraes? É claro que os ministros deveriam passar por uma ação de midia training. É claro que eles precisam ser mais cuidadosos no uso da palavra e da linguagem. No caso do Alexandre, talvez ele tenha querido dar a ideia de que está por dentro de tudo. O presidente está sendo muito cordato, muito diplomata. Deve ter chamado atenção do ministro, para ele não cometer um novo desvio de linguagem. Mas as coisas vão se ajeitar. A nomeação do porta-voz Alexandre Parola poderá melhorar a relação do governo com as informações. Ele vai fazer um briefing diário. Nós vamos ter as versões e as contra-versões e todos esses problemas serão afinados pela lupa de um porta-voz.

“Quanto mais duro for o governo, melhor para os tucanos em 2018”

ISTOÉ – O presidente Fernando Henrique tem dado algumas entrevistas na qual tem feito mais críticas ao governo Temer. Como vai evoluir isso no PSDB?
Torquato – Acredito que é jogo de cena. Na verdade, o PSDB quer que Michel faça um governo muito eficiente na economia para deixar o país preparado para os tucanos assumirem em 2018. Quanto mais duro for o governo, melhor para os tucanos. Por isso o foco dos partidos é em torno da PEC 241, do teto de gastos. Sem dúvida, a PEC do Teto é o passaporte que o País precisa para entrar bem em 2017. Interessa aos partidos um pais equilibrado. A PEC é salutar para o Pais. Se Michel conseguir aprovar isso até o final de outubro, em novembro, conseguirá acalmar o mercado.

“Para Michel tirar um ministro indicado por um partido, é complicado. Os partidos é que vão determinar isso”

ISTOÉ – Acredita que Alexandre Moraes se mantém no governo?
Torquato – A base de apoio do PSDB no governo tem três alas. A ala de José Serra, que é ele mesmo. Existe a ala de Aécio Neves, que indicou Bruno Araújo, ministro das cidades. E tem a ala de Geraldo Alckmin, contemplada com Alexandre Morais na pasta da Justiça. Essas três alas precisam estar equilibradas. Não pode haver demissão de um, a não ser que entre outro ministro indicado no lugar. Geraldo pode querer, por exemplo, que seu afilhado continue lá. Isso é o tabuleiro de xadrez da política. Para Michel tirar um ministro indicado por um partido é complicado. Os partidos é que vão determinar isso. Os partidos, se for o caso, indicam a substituição.

ISTOÉ – Qual é a sua aposta para o segundo turno da prefeitura de São Paulo?
Torquato – Vamos ver. Hoje daria Celso Russomano e João Doria Jr. para o segundo turno. Marta Suplicy precisaria conseguir se sustentar nas pesquisas e massacrar o numero dela no PMDB, 15, para o resultado ser Doria e Marta. Eu não acredito que Fernado Haddad vá para o segundo turno. Acredito que o sentimento antipetista, na última hora, vai predominar.

“Marta errou na campanha em SP por não massacrar a repetição do numero 15. Vão acabar votando no 13”

ISTO É – Como avalia a campanha de Marta pelo PMDB e o PSDB com Doria?
Torquato – É difícil tirar da Marta a cara do PT, e o número 13. Muita gente acha que o numero dela ainda é o 13. Acho que Marta errou na campanha em não massacrar a repetição do numero 15. Vão acabar votando no 13. Acho que a tendência dele é ela não se sustentar. Desde que João Doria tinha apenas 3% dos votos eu já dizia: ele vai crescer. Ele se apresentou como anti-político e como empresário. Tem a cara lavada nova, não contaminada pelo vírus da velha política. Fez o maior acordo partidário da eleição, com uma coligação forte. Com isso, conseguiu um espaço enorme na TV e no rádio. Aproveitou a onda anti-PT em São Paulo. É um trabalhador incansável, que acorda as 4 da manha fica e trabalha até meia-noite. Em nove meses, correu toda a periferia de São Paulo. Era lógico que o nome dele surgiria como anti-petista, anti-político, com cara nova e apresentando-se como um gestor. Não tinha outra. Ele tem um bom marketing e um boa comunicação. Criou um momento oportuno.