As negociações de paz sobre a Síria organizadas pela ONU em Genebra terminaram nesta sexta-feira sem avanços, em um contexto de tensão após o bombardeio americano no dia anterior contra forças do regime perto da fronteira jordaniana.

O enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, afirmou ao final das discussões que pretende retomar o diálogo em junho.

Ele se reuniu nesta manhã com a delegação de Damasco, liderada pelo embaixador Bashar al-Jaafari, e na parte da tarde com o Alto Comitê de Negociações (HCN), que se reúne a oposição.

Por falta de tempo, o diplomata ítalo-cueco explicou que as partes não conseguiram discutir os quatro assuntos pautados na agenda: luta contra o terrorismo, governança, nova Constituição e organização de eleições.

‘Agressão’

Paralelamente às negociações, as tensões aumentavam um dia após o bombardeio pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos de um comboio ligado ao regime sírio perto da fronteira com a Jordânia, seis semanas após os primeiros ataques aéreos ordenados pelo governo Trump na Síria.

Nesta sexta-feira, o secretário americano da Defesa, Jim Mattis, afirmou que as forças pró-regime atingidas na quinta-feira eram sem dúvidas “enviadas pelo Irã”.

O bombardeio foi provocado por “um movimento ofensivo, com capacidades ofensivas, de forças que acreditamos terem sido enviadas pelo Irã”, indicou Mattis durante uma coletiva de imprensa no Pentágono.

A Síria condenou esta “agressão da coalizão”, enquanto o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Gennady Gatilov, citado em Genebra por agências de notícias russas, denunciou um bombardeio “inaceitável”.

Ao falar à imprensa em Genebra, Jaafari citou “um massacre”.

A Rússia condenou o bombardeio “ilegítimo” pela coalizão, nas palavras do ministro das Relações Exteriores, Sergueï Lavrov.

“Seja qual for a razão que motivou a decisão do comando dos Estados Unidos de realizar tal bombardeio, é ilegítimo, ilegal e outra grave violação da soberania da Síria”, ressaltou nesta sexta-feira o chefe da diplomacia russa, citado pela agência de notícias Interfax numa conferência de imprensa em Nicósia.

A Síria não informou um número de vítimas. Mas segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), oito pessoas “em sua maioria não-sírias” morreram no ataque.

Um porta-voz do HCN, Yehya al-Aridi, considerou se tratar de uma “ação robusta contras as forças estrangeiras que transformaram a Síria em um campo de batalha”.

O bombardeio visou “as forças pró-regime (…) que representavam uma ameaça para as forças americanas e as forças aliadas (sírias) em At-Tanf”, perto da fronteira jordaniana, segundo declarou o coronel Ryan Dillon, porta-voz militar da coalizão anti-extremista liderada por Washington.

Em seis anos, a guerra causou a morte de mais de 320.000 pessoas e forçou metade da população a deixar suas casas.

Os esforços para acabar com o conflito correm em dois circuitos paralelos: o da ONU em Genebra, e aquele centrado em questões de segurança em Astana, capital do Cazaquistão, por iniciativa da Turquia, que apoia os rebeldes, e da Rússia e o Irã, aliados do regime sírio.

Em 4 de maio, os três países assinaram um importante acordo prevendo a criação de “zonas de desescalada” na Síria a fim de limitar o derramamento de sangue.

Já nas Nações Unidas, após cinco rodadas de diálogos sem sucesso desde fevereiro de 2016, a assessoria do enviado especial da ONU para a Síria anunciou na quinta-feira um resultado tangível: conversas de funcionários da ONU com especialistas do governo e com a oposição para tratar de “questões jurídicas e constitucionais relacionadas com os diálogos inter-sírios”.