Admito. Que incríveis esses Jogos Olímpicos.
Medalhas onde não esperávamos. Fracassos surpreendentes.
E a sensação de que o tempo parou.
A Lava Jato, o impeachment, tudo adquiriu súbita desimportância.
Nossa torcida, por vezes deselegante, surpreendeu o mundo com aquela bonita falta de noção ao gritar em uníssono “Uhu, vai morrer!” para o Francês do salto com vara.
Não fosse pela morte do treinador de canoagem da Alemanha num acidente, por uma câmera de cem quilos que se espatifou sobre incautos torcedores e uma saraivada de balas aqui e ali, tudo correu muito bem e os estrangeiros estão fascinados com nossa hospitalidade.
(Escrevo na terça-feira, ainda há tempo para queimar a língua.)
Custou caro? Não importa. Mais vale um gosto do que dez vinténs.
Mas enquanto você vibrava com os jogos, parei para me abismar com a cobertura.
Como não percebemos isso antes?
É evidente que nossos repórteres esportivos devem passar a cobrir o noticiário econômico e político.
Simplificaremos muito a compreensão do grande público.
Balada Política todas as madrugadas.
Mesas redondas depois das votações.
Narrações radialísticas das prisões da Lava Jato.
E as perguntas.
Que maravilha a capacidade de nossos repórteres esportivos de extrair informações desinteressantes dos atletas.
Com perguntas certeiras, arrancam irrelevâncias à fórceps.
Perguntas como: “está feliz com a medalha?” ou “esse último lugar era o que você esperava?” trazem à tona verdades profundas como “sim” ou “não”.
A título de ilustração, separei algumas perguntas que ouvi à exaustão durante as transmissões e exemplos de como podem ser utilizadas no contexto Político.
Deputado, o que passou pela sua cabeça naquele momento?
Ideal para entrevistar políticos flagrados com dinheiro nas cuecas e malas.
Ou os que são pegos evadindo divisas nas Ilhas Laundry.
Tentar entender que tipo de verme o sujeito tem no cérebro que permite roubar descaradamente e sem nenhuma culpa.
A torcida ajudou?
Um clássico.
Ideal para entrevisar dilmistas e oposicionistas nas festivas manifestações de domingo, onde todos são sempre vencedores com suas fotos no instagram. O bom é que a pergunta é versátil, não importa a cor da bandeira e a resposta é sempre a mesma: “Foi lindo. Provou que não vamos esmorecer!”
Doutor, o sr. ficou chateado com sua performance?
Essa deve ser endereçada aos advogados dos corruptos condenados.
Entender se o sujeito realmente acreditava na inocência do cliente que roubou bilhões de uma estatal ou se é também um fascínora.
Serve também para o AGU após sessões defendendo o indefensável.
Senador, essa será sua última participação?
Para Sarney, Collor, Maluf e eventualmente Aécio numa eventual nova derrota nas urnas. Mas sugiro reservarmos para Lula no caso de sair candidato em 2018 e não conseguir se eleger. Vai ou não vai lavar nossa alma olímpica?
É amigo…não foi dessa vez.
Esta não é pergunta. É uma dura afirmação.
Infelizmente foi ouvida diversas vezes no Rio.
Proponho que seja reservada para o período da votação final do impeachment.
Essa afirmação é como o nome Voldemort em Harry Potter:
É torcer para nunca ser ouvida.

Perguntas como: “está feliz com a medalha?” ou “esse último lugar era o que você esperava?” trazem à tona verdades profundas como “sim” ou “não”


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