O alívio era palpável nesta segunda-feira em Bruxelas depois da passagem do pró-europeu Emmanuel Macron para o segundo turno da eleição presidencial francesa, apesar de o resultado da primeira fase demonstrar um forte descontentamento em relação à UE e o vigor da extrema-direita eurofóbica.

“Não devemos subestimar os votos de Le Pen porque mostram o descontentamento que se manifesta não só na França, mas também em muitos países europeus”, observou o presidente do Parlamento Europeu, o italiano Antonio Tajani.

A líder do partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, qualificou-se para o segundo turno com 21,30% dos votos (7,6 milhões de votos), atrás do centrista social-liberal Macron, um ex-banqueiro com pouca experiência política que obteve 24,01% (8,5 milhões de eleitores).

No entanto, o voto de desconfiança da UE supera 40%, levando-se em conta o importante resultado registrado pelo candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon (19,58%), aponta Catherine Fieschi, diretora do centro de pesquisas Counterpoint, com sede em Londres.

A rapidez dos líderes europeus em cumprimentar Macron, mesmo antes da divulgação dos resultados finais, reflete a preocupação com os movimentos eurocéticos ou diretamente anti-europeus, em ascensão desde o referendo sobre o Brexit e a chegada de Donald Trump à Casa Branca.

Até o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, abandonou sua neutralidade nas eleições nacionais para felicitar durante a noite o candidato do movimento ‘Em Marcha!’ e desejar “coragem para o que virá”.

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Para justificar esta falta de neutralidade, sua porta-voz, Margaritis Schinas, assegurou na segunda-feira que Le Pen “procura a destruição da Europa.”

“Bruxelas está preocupada, e com esse resultado respirou”, assegurou o comissário europeu para Assuntos Econômicos, o francês Pierre Moscovici, que pediu para que não se “comemore vitória”, uma vez “que o segundo turno ainda não aconteceu”.

Mudança de ciclo?

“Devemos lutar” contra “as imposturas da Frente Nacional: a do Frexit [a saída da França da UE com base no modelo do Brexit] e da saída do euro”, declarou Moscovici, que considerou “muito assustador” que 7,6 milhões de franceses tenham votado na candidata da extrema-direita.

Na Áustria, o partido de extrema-direita FPÖ comemorou “um novo sucesso” para a “primavera patriótica na Europa”.

“Os velhos partidos do ‘stablishment’ e seus representantes desacreditados desaparecerão gradualmente até se tornarem insignificantes em toda a Europa”, declarou seu presidente, Heinz-Christian Strache.

Após a vitória dos partidários da saída do Reino Unido da UE, em junho de 2016, e a vitória apertada do ​​candidato ecologista sobre a extrema-direita nas eleições presidenciais austríacas, em dezembro, as formações eurofóbicas esperavam uma série de vitórias em um 2017 marcado por eleições em Holanda (março), França e Alemanha (setembro).

Como Marine Le Pen, o líder anti-europeu holandês Geert Wilders e seu Partido para a Liberdade (PVV) terminaram em segundo nas legislativas em meados de março, apesar de liderar as pesquisas durante semanas.

Wilders obteve “500.000 votos a mais” do que em 2012, “em um momento de baixo desemprego e em que a Holanda caminha muito bem”, destaca Catherine Fieschi, para quem, “mesmo com uma recuperação econômica na Europa”, esta “não parece ter um impacto sobre a decepção e mobilização dos eleitores populistas”.

“A menos que coloquem em prática uma política mais próxima das pessoas, tratando de problemas diários, como a questão dos serviços públicos ou como se sentem socialmente valorizados, esses eleitores vão se sentir cada vez mais excluídos”, acrescenta.

Outros analistas enxergam, por outro lado, uma mudança de ciclo com a eleição presidencial francesa, que Macron deve ganhar com mais de 60% dos votos no segundo turno em 7 de maio, de acordo com pesquisas.


Para Stefan Kreuzkamp, ​​analista do Deutsche Asset Management, “depois das eleições na Holanda e na Áustria, e enquanto [a formação anti-imigração] AfD cai nas pesquisas na Alemanha, o primeiro turno na França sugere que os populistas perderam muito terreno em 2017”.


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