A Comissão Europeia anunciou nesta terça-feira a abertura de uma investigação profunda sobre a compra da multinacional de biotecnologia Monsanto pelo grupo alemão de farmácia e agroquímica Bayer, ante a preocupação de que isso vá reduzir a concorrência em alguns produtos.

A comissão agora tem até 90 dias úteis, ou seja, até 8 de janeiro de 2018, para tomar uma decisão.

O projeto de aquisição da Monsanto pela Bayer por 66 bilhões de dólares, anunciado em setembro de 2016, “supõe a criação da empresa integrada mais importante do mundo nos setores dos pesticidas e das sementes”, enfatizou a Comissão em um comunicado.

“A operação aconteceria em ramos de atividades já concentrados em nível mundial”, destaca.

A Comissão Europeia já liberou duas megafusões na agroquímica desde o início do ano, ambas com restrições.

No final de março, Bruxelas autorizou a fusão dos gigantes americanos Dow e DuPont, que dará lugar nos próximos dias à megaempresa DowDuPont, avaliada em 130 bilhões de dólares na bolsa.

Dez dias mais tarde, ela validou a compra do suíço Syngenta pela gigante chinesa ChemChina por 43 bilhões de dólares, a maior aquisição já executada por um grupo chinês no exterior.

As novas entidades se comprometeram ante a União Europeia a vender algumas de suas atividades para garantir a competição no mercado europeu.

Em 2016, a Bayer teve lucro líquido de 4,5 bilhões de euros, com volume de negócios de 46,8 bilhões de euros.

No fim de julho, a companhia anunciou que apostava em um volume de negócios “de mais de 49 bilhões de euros” para o ano atual.

Já na Monsanto, o lucro no exercício 2015/2016 foi de 1,34 milhão de dólares, com volume de negócios de 13,5 milhões de dólares.

O executivo europeu “teme que a concentração” tenha repercussões negativas para os mercados “de pesticidas, sementes e caracteres agronômicos”, ou seja, as características da planta.

A operação “será muito benéfica para os agricultores e os consumidores”, segundo a Bayer, que comprometeu, em um comunicado, a “continuar trabalhando de forma estreita e construtiva” com Bruxelas.

– Onda de concentração –

Essa onda de concentração agroquímica, estimulada pelas baixas margens dos grupos do setor, com preços agrícolas ainda em baixa, causa muitas preocupações entre os defensores do meio ambiente.

O grupo internacional Avaaz pediu, no fim de julho, para a comissária europeia de Concorrência, Margrethe Vestager, bloquear a compra da Monsanto.

“Não é preciso investigar muito. Uma empresa que controla nossos alimentos é uma má ideia para os agricultores e os cidadãos do mundo”, disse na terça-feira Nick Flynn, diretor jurídico da ONG, em um comunicado.

“Os temores causados” pelas ONGs “dizem respeito às regras nacionais e europeias da segurança alimentar, aos consumidores, ao meio ambiente e ao clima”, respondeu a Comissão, cuja tarefa consiste “unicamente” em avaliar as concentrações “sob o viés da competição”.

A Comissão detalhou especialmente o herbicida “glifosato”, da Monsanto, comercializado com a marca “Roundup”, é um dos mais vendidos da Europa, e que a Bayer comercializa atualmente “um dos poucos substitutos”.

“Temos de garantir uma concorrência efetiva para que os agricultores possam ter acesso a produtos inovadores, melhor qualidade e compra de produtos a preços competitivos”, declarou Vestager.

“A Comissão vai aprofundar sua investigação para determinar se o acesso da concorrência aos distribuidores e aos agricultores possa ser mais difícil caso a Bayer e a Monsanto unam suas vendas de pesticidas e sementes”, concluiu.