A Ucrânia lembra nesta quinta-feira os 75 anos da matança de Babi Yar, um bairro da periferia de Kiev onde os nazistas mataram mais de 34.000 judeus em 29 e 30 de setembro de 1941, uma das chacinas mais atrozes da Segunda Guerra Mundial.

As cerimônias acontecem num momento em que a Ucrânia tenta se afastar de seu passado soviético e reinterpreta a história sobre o polêmico papel dos nacionalistas ucranianos durante o conflito mundial.

Na presença do presidente ucraniano Petro Poroshenko, será assinada uma declaração de intenções para a construção de um Memorial do Holocausto de Babi Yar.

Em 1991, um mês depois da queda da URSS, a comunidade judia ergueu uma escultura em forma de menorá, o candelabro judeu.

Há apenas alguns anos a Ucrânia recorda a matança, ignorada pelas autoridades durante el período soviético.

Em 29 e 30 de setembro de 1941, mais de 34.000 judeus morreram por disparos dos nazistas, que contavam com a ajuda de milicianos ucranianos.

Os nazistas, que ocupavam Kiev desde 19 de setembro de 1941, difundiram cartazes em ucraniano ordenando a “todos os judeus” que se reunissem em 29 de setembro de 1941, às 8 horas da manhã, no cruzamento das ruas Melnik e Dokterivska”, com sua documentação, dinheiro e casacos.

“Quem desobedecer esta ordem, será fuzilado”, advertia o texto.

Os judeus acreditavam que seriam deportados.

– Difícil esquecer –

Milhares de pessoas chegaram ao local na hora marcada. Foram mortos com tiros de metralhadora.

“Eles os juntaram e nos mandaram para o ‘caminho da morte'”, conta Raisa Maistrenko, que tinha 3 anos na ocasião.

“Todos os judeus acreditaram que iam ser evacuados de trem, porque a estação ferroviária ficava perto. Ninguém podia imaginar que seria uma execução em massa”, conta a hoje diretora de uma escola de dança.

Quando a ordem foi publicada, o avó tentou convencer a parte judia da família para que não fossem.

O avó materno, Meer, preferiu seguir a ordem e juntou a família, incluindo Raisa e sua mãe Tsilia. A avó paterna, uma ucraniana, quis acompanhar a neta e acabou salvando sua vida.

Quando os disparos começara, a avó começou a grita: “Sou russa!”. Pegou a neta e saiu correndo, escapando das balas.

“Ouvíamos os gritos atrás de nós, mas minha avó continuou correndo até que nos encondemos em um cemitério próximo”, recorda Raisa.

Dezoito parentes seus, incluindo sua mãe, morreram em Babi Yar.

“É impossível esquecer algo assim”, resume a sobrevivente de 78 anos.

Até 1943 eram realizadas execuções em massa no mesmo local.

Quase 100.000 pessoas morreram, entre judeus, ciganos, combatentes da resistência e prisioneiros de guerra soviéticos.

– Polêmica –

Desde a chegada ao poder das autoridades pró-ocidentais em 2014, Kiev tenta desvincular-se da herança soviética.

Em 2015, promulgou leis que proíbem os símbolos soviéticos, mas que, ao mesmo tempo, glorificam os combatentes nacionalistas que durante um tempo lutaram junto aos nazistas contra as forças soviéticas.

Muitos criticam o envolvimento de alguns desses combatentes nas matanças de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

O drama de Babi Yar foi revelado durante os julgamentos de Nuremberg, sul da Alemanha, mas a URSS, da qual a Ucrânia fazia parte, tentou diminuir a importância dos fatos para não ter que admitir que as vítimas eram em sua maioria judeus.