18/07/2016 - 17:52
A tentativa de golpe de Estado na Turquia pode ter consequências sobre as capacidades de ação deste pilar da Otan, parceiro-chave dos ocidentais em vários temas essenciais, da luta contra os extremistas à crise migratória.
Afetada este ano por vários atentados, o último deles no aeroporto internacional Atatürk de Istambul (47 mortos), a Turquia sai fragilizada, especialmente no que se refere aos planos militares e de segurança, depois do fracassado golpe lançado na noite de sexta-feira.
A detenção de milhares de militares e juízes nos últimos dias despertou temores de autoritarismo do presidente Recep Tayyip Erdogan, que podem tensionar ainda mais as relações com a UE e com os Estados Unidos.
Três dias depois do golpe de Estado fracassado que estremeceu a base de poder de Erdogan, o governo turco recuperou sua segurança. O primeiro-ministro afirmou nesta segunda-feira que a “Turquia tem a capacidade de fazer fracassar tais tentativas (de golpe), o mundo deve saber disso”.
A fim de indicar que o país mantém suas capacidades militares, Yildirim assegurou que não haverá “nenhum relaxamento em nossa luta contra a organização terrorista separatista”, em alusão ao Partido dos trabalhadores do Curdistão (PKK).
Após um vasto processo de expurgo iniciado horas depois dos acontecimentos, com milhares de militares, entre eles 100 generais e almirantes detidos, o exército turco parece mergulhado em uma grave crise.
Soner Cagaptay, diretor do programa de pesquisas sobre a Turquia no Washington Institute, esses expurgos levarão a uma perda de talentos e ao enfraquecimento de suas capacidades de intervenção.
“Os militares perderão uma parte importante de seus cérebros, inclusive gente capaz de dirigir operações no exterior, cooperar com Estados Unidos, inclusive na Síria, contra o EI”, disse Cagaptay.
‘Mais vulnerável’
Muito solicitado depois da retomada dos combates contra o PKK no sudeste do país, o exército turco, um dos mais poderosos da Aliança Atlântica, participa ao lado da coalizão antijihadista das operações contra o grupo Estado Islâmico.
A base aérea de Incirlik (sul), utilizada pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, é objeto de tensões desde a tentativa de golpe, pois as autoridades suspeitam que militares turcos destacados ali teriam ajudado os golpistas.
A instabilidade turca pode também aumentar o risco de atentados. Este ano, o país foi alvo de vários ataques sangrentos relacionados à retomada do conflito curdo e com os extremistas.
“A tentativa de golpe de Estado tornou a Turquia mais vulnerável aos ataques do EI, ao criar um vácuo importante e uma situação de crise nos campos de segurança e governança”, resumiu para a AFP Fuat Keyman, diretor do Istanbul Policy Center.
Outro assunto que atrai a atenção dos parceiros europeus é o fluxo migratório para a Europa, sobretudo dos sírios, que caiu drasticamente desde que UE e Turquia fecharam o controverso acordo sobre o tema em março deste ano.
O presidente turco, que acusa um ex-aliado, o pregador Fethullah Gülen, de estar por trás do golpe fracassado, disse no domingo que pediria às capitais europeias que extraditem para a Turquia os partidários de Gülen. “Veremos qual será a sua reação”, acrescentou.
Entre as pessoas detidas nesta segunda-feira estão também guarda-costas, e entre eles seu comandante, destituído no sábado, de acordo com os meios de comunicação turcos.
Entre 50 e 100 refugiados chegaram diariamente às ilhas gregas nos últimos três dias, número comparável ao de antes da tentativa de golpe, segundo dados oficiais gregos.