16/08/2017 - 15:29
Donald Trump conseguiu criar uma nova tempestade para seu governo após as últimas declarações sobre o episódio de violência racial em Charlottesville, que provocaram um profundo mal-estar em seu próprio partido e que pode marcar uma mudança em sua presidência.
Ao afirmar que os dois os lados eram responsáveis pela violência que abalou essa pequena cidade da Virgínia, onde uma manifestante antirracista foi morta por um simpatizante neonazista, o presidente americano ultrapassou um limite muito significativo, há pouco mais de 200 dias no cargo.
Suas declarações chegaram a ser elogiadas pelo ex-líder da Ku Klux Klan (KKK) David Duke por sua “honestidade e coragem”, mas deixaram diversos legisladores mudos. E deu a clara impressão de que essas expressões eram o que Trump realmente pensava, e não o que disse no dia seguinte aos fatos, quando leu na Casa Branca uma declaração condenando a “violência racista”.
Um sinal claro deste desconforto é que os republicanos sequer apareceram na televisão para defender o presidente, e as únicas vozes a emergir foram de crítica.
“Em Charlottesville, os errados estão claramente do lado da KKK e dos supremacistas brancos”, disse a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna Romney McDaniel, à rede ABC.
“É preciso que ele repare os danos, e é preciso que os republicanos se manifestem alto e forte”, afirmou à rede NBC, nessa mesma linha, o governador de Ohio, John Kasich, que enfrentou Trump nas prévias do partido na corrida pela Presidência em 2016.
Kasich advertiu que Trump corre o risco de “colocar a Presidência em um terreno que não é aceitável para o país”.
Os ex-presidentes republicanos George H.W. Bush e George W. Bush divulgaram um comunicado conjunto pouco comum para eles, no qual pedem que “repudiar o racismo, o antissemitismo e o ódio em todas as suas formas”.
Sem citar Trump, os Bush afirmaram a necessidade de lembrar as palavras de Thomas Jefferson, principal redator da Declaração de Independência dos Estados Unidos: “todos os Homens foram criados iguais”.
– O tuíte de Obama –
Falando de forma improvisada ao ser abordado pela imprensa em sua Trump Tower, em Nova York, Donald Trump equiparou os supremacistas brancos com os manifestantes que os denunciam.
Criticou “a esquerda que atacou a direita alternativa”, destacando que há pessoas “muito boas” de ambos os lados.
“Por que estamos surpresos que o presidente que lançou sua campanha com apelos pela intolerância dê crédito hoje aos que a defendem?”, questionava David Axelrod, conselheiro próximo do então presidente Barack Obama.
Inúmeros observadores relembraram que o atual presidente alimentou durante anos uma teoria com toques racistas sobre o local de nascimento de Barack Obama, antes de descartá-la ao fim da campanha.
No sábado, pouco depois dos episódios de violência, Trump causou uma primeira onda de revolta ao se negar a condenar explicitamente os grupos dos quais saiu o militante neonazista que lançou o seu carro contra os manifestantes.
O seu antecessor democrata, Barack Obama, reagiu tuitando uma frase de Nelson Mandela: “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou sua origem, ou sua religião”. Este tuíte de Obama se tornou o mais popular até o momento na história da rede social, informou o Twitter nesta quarta-feira.
O jornal The New York Times lamentou em editorial o comportamento de Trump, que se tornou, “infelizmente, nada surpreendente”.
“Os políticos de Washington esperavam que a indicação recente de John Kelly, um ex-general dos Marines, ao posto de chefe de gabinete da Casa Branca impusesse um pouco de disciplina nesse governo caótico”, escreveu o jornal.
“Mas o cerne do problema não está ligado à composição da equipe presidencial: está ligado ao homem que está no topo”.
De Saint-Louis, no Missouri, o lendário enxadrista russo Garry Kasparov insistiu na necessidade de que os Estados Unidos “combatam o ódio e sigam sendo livres”.
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, por sua vez, ironizou no Twitter sobre as prioridades dos Estados Unidos, e aconselhou a primeira potência do mundo a perseguir “os adeptos da supremacia branca antes que se meterem nos assuntos dos outros países”.