Donald Trump jogou a culpa neste domingo sobre a ala ultraconservadora de seu Partido Republicano pela maior derrota sofrida até o momento em sua presidência, quando teve de retirar seu projeto de reforma da saúde de votação por falta de apoio no Congresso.

Sua reforma da saúde, sua primeira proposta legislativa de importância e que deveria marcar a ruptura com o governo de seu antecessor Barack Obama, se esfacelou, mesmo em um Congresso controlado por seu próprio partido.

O empresário septugenário já conheceu outros revezes, como a falência de seus cassinos, mas sua insolência e sua capacidade de recuperar viraram sua marca e ele surpreendeu ao conseguir chegar à Casa Branca.

Mas ele não parecia preparado para essa derrota pessoal de sexta-feira, e não escondeu isso.

“Os democratas estão sorrindo na capital porque o Freedom Caucus, com a ajuda do Club For Growth e a Heritage Foundation, salvaram o Planned Parenthood e o Obamacare!”, tuitou o presidente dois dias depois que os líderes republicanos cancelaram a votação no Congresso que faria alterações no chamado Obamacare, o plano de saúde implantado pelo ex-presidente Obama.

O Freedom Caucus é uma das forças conservadoras mais poderosas de Washington e o Club for Growth tem como foco principal suas políticas contra as tributações. Os grupos são muito influentes no círculos conservadores do mundo político americano.

The Heritage Foundation é, por sua vez, um respeitado grupo de ‘think tanks’ conservador.

Ao evocar o “Planned Parenthood” – o maior programa de realização de abortos do país -, Trump aparentemente retomou o tom elevado que conquistou suas bases.

Na sexta-feira, antes da votação, Trump tuitou alertando a respeito da ala moderada de seu partido.

“A ironia é que o Freedom Caucus, que é muito pró-vida e contra o Planned Parenthood, permita que que o P.P. continue existindo!”

Depois de ter retirado seu polêmico projeto de reforma do sistema público de saúde ao constatar que não teria os votos necessários para a sua aprovação, Trump falou à nação do Salão Oval da Casa Branca e disse ter ficado “desapontado” e um “pouco surpreso” com o revés.

O presidente previu que o modelo atual “explodirá” e disse que agora vai se concentrar em reformar o sistema fiscal.

Em coletiva de imprensa, o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, afirmou ter falado com Trump para lhe dizer que “o melhor a fazer era retirar este projeto de lei, e ele concordou”.

Sem esconder sua frustração, Ryan disse que o atual sistema de seguros saúde “é a lei”.

“Não temos os votos suficientes para substituir esta lei. De forma que sim, teremos que conviver com o Obamacare por enquanto”, expressou.

Os republicanos ocupam 237 cadeiras do total de 435 da Câmara de Representantes, e Trump precisava de 216 votos para aprovar sua proposta e sepultar o Obamacare.

Depois de dois meses no poder, esta bofetada política evidencia uma pergunta que poderá durar por toda sua presidência. Donald Trump poderá governar usando as fórmulas que permitiram que chegasse ao poder.

“O epílogo de sexta é bom para o país, mas humilhante para os dirigentes republicanos”, escreveu The New York Times em seu editorial. “Para Trump, é uma recordação brutal de que fazer campanha é a parte fácil”.

Seus tuítes erráticos e constantes colocam sua esquipe, e também o campo republicano, em uma posição cada vez mais incômoda, como quando acusou Barack Obama de ter grampeado seus telefones sem a mínima prova tangível.