“Lacaia” de Hillary Clinton, “uma das atrizes mais superestimadas de Hollywood”: com estas palavras duras Donald Trump se dirigiu a Meryl Streep, irritado com as críticas a ele de uma das atrizes mais queridas de Hollywood, durante a cerimônia do Globo de Ouro.

“Meryl Streep, uma das atrizes mais superestimadas de Hollywood, não me conhece, mas me atacou ontem à noite no Globo de Ouro”, escreveu o temperamental futuro presidente americano em sua conta no Twitter.

Indicada 19 vezes ao Oscar (um recorde para atores e atrizes) e três vezes ganhadora de estatuetas, Streep investiu contra Trump e sua retórica divisiva, sem mencioná-lo diretamente, em discurso na noite de domingo em Los Angeles.

Com a voz embargada pela emoção, tentando conter as lágrimas, ela evocou especialmente um episódio em que Trump, na época um candidato republicano, fala do repórter Serge Kovaleski, do jornal The New York Times, que é portador de deficiência, a quem imita agitando os braços.

Kovaleski sofre de artrogripose, síndrome que limita o funcionamento das articulações.

Jornalista “rasteiro”

“É uma lacaia de Hillary, que perdeu de forma retumbante. Pela 100ª vez, nunca ‘parodiei’ um jornalista deficiente (nunca faria isso)”, reagiu Trump em outra série de tuítes, prosseguindo assim com o hábito de responder rapidamente àqueles que o criticam pelas redes sociais.

“Simplesmente o mostrei como ‘rasteiro’ quando ele mudou totalmente uma matéria que tinha escrito havia 16 anos para me fazer ficar mal”, disse. “Isto é apenas mais imprensa desonesta!”, acrescentou.

Em um rápido discurso, ao aceitar o prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto da obra, entregue pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, Streep, considerada uma das melhores atrizes do mundo e ganhadora de oito Globos de Ouro, lembrou uma “atuação” que a marcou este ano.

“Foi quando a pessoa que está pedindo para se sentar no lugar mais respeitado do nosso país imitou um jornalista com deficiência, alguém a quem supera em privilégios, em poder e na capacidade de se defender. Quando o vi, meu coração se partiu”, disse a atriz.

“Ainda não consigo tirá-la da cabeça porque não ocorreu em um filme. Foi a vida real. E este instinto de humilhar, quando é praticado por alguém que está na cena pública, por alguém poderoso, invade a vida de todo mundo porque dá permissão para que outras pessoas façam o mesmo”, disse.

Violência gera violência

“Falta de respeito gera falta de respeito. Violência incita a violência”, afirmou. “Quando os poderosos usam sua posição para amedrontar os outros, todos perdemos”, acrescentou, sob aplausos.

“Vocês e todos os que estão neste recinto, na verdade, pertencem aos segmentos mais vilipendiados da sociedade americana agora. Pensem nisso. Hollywood, os estrangeiros e a imprensa”, disse a atriz de 67 anos, em alusão às críticas contínuas de Trump à imprensa, a quem acusa de tendenciosa, e seu discurso, fortemente anti-imigração.

Como a imensa maioria da indústria do entretenimento, Streep apoiou Hillary Clinton, a adversária democrata de Trump na corrida pela Casa Branca.

“Graças a Deus por Meryl Streep, que disse a verdade ao Poder e disse a verdade ao Poder no Globo de Ouro esta noite”, comemorou a atriz veterana Bette Midler no Twitter.

“O discurso de Meryl Streep não foi político, a menos que a decência, a empatia e o respeito sejam políticos”, elogiou a atriz Mia Farrow, também no Twitter.

Em breve entrevista ao jornal The New York Times, Trump, que será empossado em 20 de janeiro, disse que não tinha ouvido o discurso de Streep, mas que estava surpreso por ser criticado “pela gente do cinema liberal”.

A ex-chefe de campanha de Trump e principal assessora do presidente eleito, Kellyanne Conway, disse nesta segunda-feira ao canal Fox que está “preocupada de que alguém com uma plataforma como Meryl Streep” esteja “incentivando os piores instintos das pessoas”.

“Há muita autocompaixão. Cairia bem um pouco mais de consciência de si mesmos quando falam de seus vestidos de trilhões de dólares do quão vilipendiada está a pobre Hollywood”, ironizou Conway.

Streep pediu à imprensa que preste contas aos poderosos e conte a verdade.

“Como minha querida amiga, a falecida Leia me disse uma vez, ‘Pega teu coração em pedaços e o transforme em arte'”, concluiu, em alusão a Carrie Fisher, a estrela da saga “Guerra das Estrelas” que morreu de ataque cardíaco em 27 de dezembro.