Com a posse da nova equipe da Procuradoria-Geral da República, os novos integrantes da força-tarefa da Lava Jato vão poder ter acesso a procedimentos sigilosos. Antes de Raquel Dodge assumir a PGR na última segunda-feira 18, os procuradores não tinham autorização judicial para se debruçar sobre dezenas de investigações que estavam sob sigilo. A partir de agora, isso será possível, o que vai demandar algum tempo dos oito membros do grupo de trabalho da Lava Jato para que eles se familiarizem com as investigações. Só depois de uma análise detalhada do material é que Dodge poderá oferecer suas primeiras denúncias.

Para evitar trapalhadas vistas no tempo de seu antecessor Rodrigo Janot, Dodge orientou sua equipe a ter tranquilidade em todos os procedimentos investigativos. Um dos principais objetivos dos procuradores será restaurar a imagem do Ministério Público Federal (MPF) perante à sociedade, segundo fontes ouvidas por ISTOÉ. Elas avaliam que as polêmicas em torno da JBS arranharam a credibilidade da instituição. Antes ela era vista como aliada da população, descrente em meio a um cenário de corrupção sistêmica. Muitos passaram a duvidar das reais intenções do MPF por causa das peripécias do ex-procurador Marcello Miller, acusado de auxiliar Joesley Batista a negociar sua delação premiada.

O “jogo duplo” de Miller, sob o beneplácito de Janot, não pegou bem e, agora, cabe à equipe de Dodge recuperar o prestígio perdido. A nova procuradora também está batendo na tecla de que vazamentos à imprensa de casos em segredo de Justiça não podem mais acontecer. O perfil de trabalho da nova equipe deve ser menos “espalhafatoso” do que nos últimos meses. Uma das dúvidas que pairam sobre a nova gestão, qual seja, o futuro da delação da JBS, ainda não está definido e carece de análise cuidadosa dos integrantes recém-empossados no alto escalão.

O caso JBS fez a nova procuradora tomar posse em um momento muito mais agitado do que o planejado. Um dos procuradores mais próximos a Dodge disse que o grupo esperava chegar à PGR em um cenário de mais calmaria. A revisão do acordo da JBS e a possível quebra dos acordos de Joesley Batista e Ricardo Saud (ex-diretor da empresa), fizeram o avião “arremeter e encarar possíveis novas turbulências”, nas palavras do procurador. “Assumimos com o avião subindo novamente”, completou. De fato, o problema da JBS é apenas um dos casos delicados que estão no colo de Dodge.

Para encarar o que vier pela frente, especialmente no que diz respeito ao avanço da Lava Jato, a nova PGR promoveu várias mudanças na equipe que conduz a operação junto ao STF. Dos dez membros que trabalhavam com Janot, apenas dois permanecem: Maria Clara Barros Noleto e Pedro Jorge do Nascimento. Eram os dois integrantes com menos tempo na equipe do antigo PGR. Outros três membros da equipe de Janot se anteciparam e pediram para deixar as investigações diante da escolha de uma procuradora que não estava afinada com Janot: Anna Carolina Resende Maia Garcia, Daniel Resende Salgado e Ronaldo Pinheiro de Queiroz.

Dodge diz que pretende valorizar, além da Lava Jato, outras frentes de atuação do MPF, incluindo a defesa dos direitos humanos e questões ambientais

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Por fim, cinco procuradores ligados a Janot vão participar de uma equipe de transição por 30 dias, e depois, retornam às suas atribuições de origem. Rodrigo Telles e Fernando Alencar teriam demonstrado interesse em permanecer no grupo de trabalho, mas foram dispensados por Dodge. Isso gerou mal-estar interno na véspera da cerimônia de posse. A partir de agora, a Lava Jato será comandada por José Alfredo de Paula, que tem larga experiência em operações de combate à corrupção e atuou no Mensalão. Este novo grupo de trabalho estará sob a vigilância da nova Secretaria de Função Penal Originária do STF, coordenada por Raquel Branquinho. Procuradores não ligados diretamente à Dodge elogiaram a nova equipe, avaliando que ela é acima de tudo competente.

Além da Lava Jato

A dúvida reside na forma com que o trabalho será conduzido. O clima, para esses membros do MPF, é de incerteza, porque a mudança interna é grande. O vice-procurador-geral Luciano Maia acredita que, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, Dodge tem reforçado a equipe da Lava Jato com procuradores experientes em crimes do colarinho branco. Maia, inclusive, garantiu que não vai atuar no Petrolão – seu trabalho estará focado nos direitos humanos, uma das bandeiras da nova PGR.

Dodge quer fortalecer sua atuação em outras esferas, além da criminal (que envolve o combate à corrupção). No discurso de posse, ela disse que pretende valorizar, também, as demais frentes de atuação do Ministério Público, incluindo questões ambientais. Para algumas fontes ouvidas por ISTOÉ, isso pode significar que a Lava Jato não será a grande prioridade de Raquel Dodge. Para outras, é apenas um indicativo de que a procuradora pretende “abrir o leque” e dar ênfase a todas as atribuições constitucionais do MPF. A ver.

 

 


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