Um dos grandes nomes da música brasileira, Pixinguinha morreu em 1973, vítima de um enfarte fulminante. Em 2013, ano em que se completavam quatro décadas de sua partida, a cantora Vânia Bastos e o contrabaixista e arranjador Marcos Paiva, acompanhados de Jônatas Sansão (bateria), Nelton Essi (vibrafone) e César Roversi (sopros), reuniam-se no palco para homenagear o célebre compositor de Carinhoso, Rosa, entre outros clássicos ‘cantados’ e instrumentais. Estrearam o show 40 Anos Sem Pixinguinha em abril daquele ano, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo.

O sucesso com o público fez com que o projeto tivesse vida mais longa e continuasse em outros palcos. Depois de três anos de shows, esse repertório dedicado a Pixinguinha, cujos arranjos são assinados por Marcos Paiva, ganhou registro no disco Concerto Para Pixinguinha, que chegará às lojas no dia 15 de julho e terá show de lançamento no dia 13 de agosto, no Teatro J. Safra, em São Paulo.

Apesar de alguns shows terem contado com as participações de Selma Reis e Maria Alcina também nos vocais, é Vânia Bastos a cantora titular do projeto. E foi pensando no seu estilo vocal que Marcos Paiva fez os arranjos. “A gente concebeu um show que abria com um pouco de música instrumental, para mostrar essa parte que é mais melódica do Pixinguinha, e o restante é cantado. Fiz os arranjos para a Vânia. Sempre foi para ela. Com o passar do tempo, a gente acabou convidando algumas pessoas para participar, mas o concepção sempre foi em cima da voz da Vânia”, conta Marcos Paiva.

Vânia Bastos cresceu ouvindo os clássicos de Pixinguinha, mas, como cantora, em mais de 30 anos de carreira, ela só havia gravado do compositor Gavião Calçudo em seu disco Diversões Não Eletrônicas, de 1997. “Algumas outras músicas que gravei agora fiquei conhecendo por causa do projeto. Fiquei apaixonada também pela parte instrumental do Marcos Paiva”, diz a cantora. “Para mim, foi uma surpresa boa. Que bom que estou fazendo parte desse som, porque é histórico e é novo ao mesmo tempo.” Vânia foi convidada para integrar o projeto, lá em 2013, pelo produtor Fran Carlo, diretor artístico de Concerto Para Pixinguinha, a partir da ideia lançada por seu sócio, Petterson Mello, que assina a produção executiva do disco.

E qual foi a preocupação de Vânia ao interpretar essa obra tão importante? “O Pixinguinha não fez nada em vão, então, se ele colocou certas notas ali, é para fazer isso. Não é para a gente ficar inventando muito. Acho legal ter esse respeito grande aos compositores em geral. Gosto de respeitar o que ele pensou. No mais, é se deliciar mesmo”, ela responde. “A gente estuda, estuda, estuda para depois relaxar no sentido de aproveitar tudo aquilo do que acontece, se deliciar com o som. O Pixinguinha, musicalmente, é uma imensidão sonora. Eu já fiz coisas de Tom Jobim, Caetano Veloso, Clube da Esquina e, de repente, ganhei de presente o Pixinguinha.”

E para Marcos Paiva, como foi entrar nessa espécie de terreno sagrado que é a obra de Pixinguinha e pensar nos arranjos? “Mexer na obra dessas pessoas é sempre algo muito complicado, porque, quando você pega essas figuras muito icônicas, de qualquer universo artístico, você tem de tratar com um olhar muito apurado. Se você mexer demais, no sentido de arranjo, você pode perder um pouco a mão, e o Pixinguinha é muito sofisticado, tanto harmonicamente quanto melodicamente. Então, tive esse cuidado”, explica o músico. Ele acredita que o “achado”, nesse sentido, está na formação musical do projeto, que é mais jazzística, com contrabaixo, vibrafone, bateria, saxofone e clarinete. “Isso, por si só, já diz muito do arranjo, porque vai soar completamente diferente. Eu parti um pouco dessa sonoridade.”

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O repertório do disco é o mesmo do show, mesclando músicas instrumentais e com letras – e que, segundo Marcos Paiva, vão do onírico ao festeiro -, mas a ordem delas foi pensada de maneira diferente. No palco, o instrumental de Pixinguinha inicia a apresentação. No álbum, o abre-alas fica por conta de Isso É Que É Viver, de Pixinguinha e Hermínio Belo de Carvalho, na voz de Vânia Bastos. “Quando você vai assistir a um show, tem o teatro, tem toda uma preparação em que você está muito aberto ao que vai vir ali. Então, começa o show comigo, com a música instrumental, e depois entra a Vânia e ela vai até o final. No disco, a gente achou que faria sentido começar com ela e intercalar as músicas instrumentais de uma forma que a pessoa tome um susto e depois volte a voz. A gente optou por um formato mais acolhedor para quem ouve. E valoriza os dois lados: você traz a pessoa para perto e aí apresenta uma música instrumental. Acho que ficou um formato bonito”, conta o músico.

As canções selecionadas para o projeto também avançam pelo cancioneiro de Pixinguinha alternando as mais populares e outras nem tanto. Depois de Isso É Que É Viver, Vânia emenda a valsa Rosa, um dos clássicos absolutos do compositor. Vem então o instrumental Seu Lourenço no Vinho, e Vânia retorna em Fala Baixinho. E essa alternância segue com Carinhoso, outro grande clássico, Cochichando, Lamentos, Mundo Melhor, Displicente, Samba de Fato, Gavião Calçudo (que entrou no repertório em homenagem a Vânia, que fizera o registro da canção em seu disco), Recordações e Urubu Malandro. Os arranjos de Marcos Paiva são de uma delicadeza que, de fato, se encaixam com perfeição com a interpretação aveludada – e versátil – de Vânia Bastos. É um belo tributo a Pixinguinha.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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