Até 20 de janeiro, os Estados Unidos só têm um presidente: Barack Obama”. Esta é a mensagem que a Casa Branca tenta passar ao mundo diante das intervenções diárias feitas pelo presidente eleito, Donald Trump, sobre as grandes questões nacionais. Com opiniões díspares a respeito de quase tudo, Trump e Obama protagonizam a transição mais tumultuada da história do país. Antes mesmo de assumir, o republicano tem desautorizado publicamente as medidas anunciadas pelo atual presidente. É como se Trump já comandasse a nação, só que via Twitter, deixando evidente que a política de desconstrução do governo Obama já começou. “Por tradição, a transição nos Estados Unidos é um processo muito institucionalizado, no qual representantes tanto do governo que sai, quanto do que entra, encontram-se em um prédio público e trocam informações bastante específicas e organizadas”, diz o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, José Augusto Guilhon Albuquerque. “Desta vez, o que está acontecendo é uma transição de mão única, a partir da residência de Trump, o que evidencia que seu governo poderá ser estabelecido com base apenas no entendimento pessoal que ele tem do mundo”.

DIPLOMACIA Obama expulsou diplomatas russos do país, mas Putin não entrou na briga. Agora, ele espera o início do mandato de Trump para estreitar os laços com os EUA
DIPLOMACIA Obama expulsou diplomatas russos do país, mas Putin não entrou na briga. Agora, ele espera o início do mandato de Trump para estreitar os laços com os EUA

Na terça-feira 3, com a posse do novo Congresso (na Câmara, serão 241 republicanos e 194 democratas. No Senado, 52 contra 48), a situação de Obama piorou. Trump pressionou, via Twitter, e exigiu que os parlamentares discutissem temas como a revogação do Obamacare, medida que incluiu 20 milhões de pessoas no sistema de saúde dos Estados Unidos. Ele foi atendido prontamente e o fato forçou Obama a se reunir no dia seguinte com democratas a fim de garantir a sobrevivência do programa. “Trump terá uma situação muito favorável com a maioria significativa dos republicanos no Congresso e ele está se valendo da vantagem desde já”, diz Roberto Abdenur, embaixador do Brasil em Washington entre 2004 e 2006. “O novo presidente quer destruir o legado de Obama, sobretudo na área social, e promete fazer isso a partir do primeiro dia de mandato”.

Enquanto a posse não chega, não faltam intrigas entre os presidentes, amplificadas pelas discussões públicas e declarações polêmicas de Trump. O republicano acusou o democrata de impor “obstáculos” e de fazer “afirmações incendiárias” com o objetivo de dificultar a transferência de poder. Entre outras cutucadas no rival, Obama disse à imprensa que, fosse ele o candidatado democrata, o magnata jamais teria vencido a eleição. Outra polêmica que tem feito da atual transição a mais conturbada dos Estados Unidos se deu depois que Obama expulsou 35 diplomatas russos e fechou dois estabelecimentos que supostamente teriam sido utilizados por hackers para interferir na eleição de 8 de novembro. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu não retaliar os americanos e apenas aguardar a posse de Trump para “restaurar a relação russo-americana”. Trump elogiou a atitude do novo parceiro: “Sempre soube o quanto Putin era inteligente”.

 

crime? Mansão que pode ter servido de base para a espionagem russa: suspeita de fraude na eleição
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O presidente eleito também criticou a posição dos Estados Unidos, obviamente referendada por Obama, de não ficar ao lado de Israel na resolução do Conselho de Segurança da ONU, que condenou assentamentos israelenses em territórios palestinos ocupados. “Mantenha-se forte, Israel, o 20 de janeiro se aproxima rápido”, declarou Trump, que até convidou o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, para a posse. A prisão de Guantánamo foi outro ponto de discórdia. “Não deveria haver mais liberações”, disse o eleito diante da intenção de Obama de soltar mais 22 detentos antes de deixar o cargo. Empresas como a Ford e General Motors também sofreram com as sandices de Trump. “Fabriquem nos Estados Unidos ou pagarão alto imposto fronteiriço”, determinou. Diante da ameaça, a Ford anunciou o fim do seu plano de construir uma fábrica no México orçada em US$ 1,6 bilhão e afirmou que irá injetar US$ 700 milhões na unidade que mantém no Michigan. A GM não se manifestou sobre o assunto. Pela internet, Trump dá indícios eloquentes de como irá governar. O que vai ser na vida real, é uma incógnita.

O braço de ferro entre Obama e Trump

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Até a posse do republicano, no próximo dia 20, muita discórdia está por vir. Por enquanto, eis os principais pontos de divergência entre os presidentes:

• Diplomatas russos
Motivado pela suspeita de que hackers interferiram na eleição americana, Obama expulsou dos Estados Unidos 35 diplomatas russos e fechou duas mansões que supostamente seriam utilizadas para espionagem. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu não retaliar os americanos e apenas aguardar a posse de Trump para “restaurar a relação russo-americana”

• A questão israelense
Pela primeira vez desde 1979, os Estados Unidos se abstiveram de vetar uma resolução da ONU que condena os assentamentos israelenses em territórios palestinos ocupados. Com isso, o texto foi aprovado e poderá abrir caminho para a imposição de sanções contra os israelenses

• O novo Congresso
O 115º Congresso dos Estados Unidos, o mais conservador da história, foi empossado na terça-feira 3. Em seu primeiro dia de atuação, Trump exigiu que os parlamentares focassem na “reforma tributária e no sistema de saúde”, políticas públicas implementadas por Obama que Trump quer modificar imediatamente

 


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