Após anos de posições centristas sob a influência da “terceira via” de Tony Blair, os trabalhistas britânicos apresentaram nesta terça-feira um programa eleitoral “radical e responsável”, com propostas de nacionalizações e do fim da austeridade.

O líder trabalhista e candidato a primeiro-ministro Jeremy Corbin justificou a necessidade de mudança para as eleições de 8 de junho porque o país foi dirigido “para os ricos, a elite e os interesses ocultos” nos sete anos de governo conservador.

“Mudará nosso país”, afirmou Corbyn no discurso de apresentação do programa em Bradford, noroeste da Inglaterra.

Nesta cidade conhecida por sua população jovem, o veterano líder socialista iniciou o discurso com a recordação das dificuldades “dos jovens que lutam para encontrar um trabalho, as crianças que crescem na pobreza e os estudantes que acabam endividados”.

O programa inclui um aumento dos impostos para os salários elevados, a partir de 80.000 libras (94.000 euros, 103.000 dólares) por ano.

Para os salários superiores a 123.000 libras, a taxa de impostos será a máxima, 50%.

Além disso, Corbyn prometeu reestatizar o sistema ferroviário, os correios e as empresas de distribuição de água, além de propor um “imposto Robin Hood” às transações financeiras..

Com os novos impostos, o partido pretende arrecadar para os cofres públicos 48,6 bilhões de libras adicionais para financiar os compromissos do programa.

– “Absurdo”, afirmam os conservadores –

Entre outras promessas, os trabalhistas desejam aumentar o financiamento da saúde pública, construir um milhão de novas casas para combater a escassez de residências e os preços elevados, acrescentar quatro feriados aos oito anuais já existentes (a média nos países do G20 é 12) e aumentar o salário mínimo.

Após anos de redução dos serviços públicos, o partido de Corbyn deseja contratar 10.000 policiais adicionais, 3.000 guardas carcerários, 3.000 bombeiros e 500 guardas de fronteira.

“Este é um programa para a esperança. Em contraste, a campanha conservadora se baseia em uma só palavra: medo”, disse Corbyn.

Os conservadores da primeira-ministra Theresa May registram uma vantagem de 20 pontos nas pesquisas de intenção de voto para as eleições legislativas. Se a diferença for confirmada nas urnas, o governo aumentará a maioria absoluta na Câmara dos Comuns obtida em 2015.

Paul Johnson, diretor do Instituto de Estudos Fiscais (Institute for Fiscal Studies), uma organização independente de análises, afirmou que as alterações propostas pelos trabalhistas representariam uma mudança significativa.

“A carga de impostos já está aumentando. Se os trabalhistas arrecadarem 49 bilhões de libras, teríamos a maior carga de impstos em 70 anos”, escreveu no Twitter.

Os conservadores chamaram o plano de “absurdo” e consideraram que seus rivais não calcularam bem o impacto.

“As pessoas comuns pagarão pelo caos de Corbyn”, afirma o secretário da Fazenda, David Gauke, em um comunicado.

Os simpatizantes trabalhistas que assistiram o discurso de Corbyn ficaram entusiasmados. Questionado por grande parte dos deputados, o líder do partido é muito querido pela militância e venceu com folga as duas eleições primárias que disputou.

Joe Ashton, um voluntário trabalhista de 29 anos, disse que “o programa é oficialmente diferente do de outros partidos e prova que nem todos são iguais”.

“Acredito que é radical sem ser extremo”, completou.