Treino é treino, jogo é jogo. Menos de uma semana depois de entrar com seu time em campo, o presidente-treinador Michel Temer tem sentido, da pior maneira possível, a verdade dessa máxima futebolística. Com um ministério montado às pressas e ainda sem tempo para conhecer mais a fundo o estilo de jogo de cada um de seus integrantes, Temer passou boa parte dos primeiros dias de seu mandato administrando a falta de entrosamento entre os discursos de seus ministros e a tática que pretende aplicar. Com o campeonato em pleno andamento e uma barulhenta torcida contrária, será preciso muita conversa para que a bola comece a girar redonda nos gramados da Esplanada dos Ministérios.

As trombadas dos primeiros dias – como a bola fora do ministro da Justiça, Alexandre Moraes, sobre a nomeação de um futuro Procurador Geral da República, ou a inconfidência do titular da Indústria, Comércio e Serviços, Marcos Pereira, que assumiu ter “pouca afinidade” com o assunto – têm, além do desentrosamento, explicação também no estilo Temer de orientar seus comandados. A princípio, o presidente deu mais autonomia aos ministros do que seus antecessores tinham no Time Dilma. A técnica afastada não apreciava jogadores com pretensão a ter brilho próprio e preferia gente menos experiente e com um estilo mais trombador. Com isso, mantinha todo mundo em rédea curta e controlava até mesmo a relação de sua equipe com a imprensa, mantendo os holofotes sobre si.

Já o elenco de Temer é bem mais rodado, gente acostumada com a resenha com os jornalistas e com liberdade para falar quando bem entender. O problema é a falta de jogadas ensaiadas entre presidente e ministros. A primeira providência do professor deveria ser a instalação de uma espécie de pré-temporada, com todos fechados em concentração, o que equivaleria a uma quarentena declaratória, até que o discurso estivesse afinado. É uma missão difícil para o comandante de um time em que, se não existem propriamente estrelas, todo mundo se vê em condições de jogar para a torcida e fortalecer seu passe pensando nas próximas eleições. Além disso, Temer tem um camisa 10, Henrique Meirelles, que ganhou a braçadeira de capitão do escrete. Com ele, a tática está acertada. E se o craque brilhar, o resto do time vai junto.