O roteiro é parecido: um homem dirige um carro de grande porte em algum centro urbano, acelera repentinamente e atropela dezenas de pessoas. O pânico se instala. Em um átimo, transeuntes correm de um lado para o outro, horrorizados, sem saber o que está acontecendo. O agressor foge. Ou então para o carro e entra em confronto com a polícia. A cena lamentável acaba em tiroteio e corpos no chão, além de macas, medo e tristeza. Foi assim nos recentes atentados em Dijon, Nantes e Nice, na França; em Quebec, no Canadá; e em Berlim, na Alemanha. Na quarta-feira 22, foi assim em Londres, nas proximidades do Big Ben, o ponto turístico mais famoso da cidade, e acabou com quatro pessoas mortas e mais de 40 feridas. É um dos tipos de ataque mais repetidos pelo terror. Sem levantar suspeitas diretas, o chamado “lobo solitário” causa tragédias porque é quase impossível de ser combatido. “O terrorista não precisa comunicar ninguém sobre nada e nem comprar uma arma de fogo ou materiais explosivos. Dessa forma, não levanta suspeita imediata”, afirma o britânico Chris Phillips, ex-chefe do Gabinete Nacional de Segurança contra o Terrorismo no Reino Unido.

Parlamentares fazem um minuto de silêncio na primeira sessão após tragédia
Parlamentares fazem um minuto de silêncio na primeira sessão após tragédia

Para Paul Gill, professor de Segurança e Ciência Criminal da University College London, boa parte da dificuldade em conter esse tipo de crime vem da enorme demanda a ser administrada pelos serviços de inteligência. A quantidade de pessoas que representam ameaças e precisam ser acompanhadas é grande demais, e polícia e serviço secreto são obrigados a decidir quais suspeitos oferecem maior risco de cometer um crime e merecem atenção. De acordo com Gill, os investigadores acertam. Seguem pistas, vasculham o passado, analisam o comportamento e conseguem impedir tragédias. Trabalhando assim, conseguiram evitar vários ataques à capital inglesa, um dos principais alvos dos terroristas por sua importância no cenário mundial. “O atentado na ponte de Westminster foi um lapso depois de um período relativamente longo de êxito”, afirma o especialista.

12 anos sem vítimas

De fato, a Grã-Bretanha não tinha registro de um ataque com tantas vítimas fatais havia 12 anos. O da semana passada talvez pudesse ter sido abortado se não houvesse ocorrido uma falha de avaliação. Seu autor, o inglês Khalid Masood, tinha 52 anos e já havia sido investigado pelo serviço secreto inglês. Na ocasião, entendeu-se que não existia qualquer indício de que fosse cometer um crime dessa magnitude. Ele tinha sido condenado por agressões, porte de armas e ofensas à ordem pública, informou a Polícia Metropolitana de Londres. A primeira ministra Theresa May afirmou que, na época da investigação, ele foi considerado “figura periférica”.

Memória policial presta homenagem a vítimas.
MEMÓRIA Policial presta homenagem a vítimas.

O Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado. Isso não quer dizer que Khalid tenha sido treinado pela milícia. “Provavelmente a pessoa está fora de organizações terroristas, mas segue sua ideologia”, afirma Phillips. O especialista acredita que justamente pela repercussão que esse tipo de crime tem é que ele se repete. O próprio Estado Islâmico orienta seus seguidores a provocarem ataques contra multidões com caminhões. “O mundo se tornou mais perigoso porque todos podem falar sobre o que quiserem e anonimamente”, diz. “O que houve em Londres pode acontecer amanhã ou depois em qualquer outra cidade do mundo.” E aconteceu. Na quinta-feira 23, um dia após o ataque na capital britânica, um homem de nacionalidade francesa foi detido em Antuérpia, na Bélgica, depois de lançar um carro contra pedestres no centro da cidade. Ninguém ficou ferido e o terrorista foi preso.

Roteiro de um ataque
Como aconteceu o atentado em Londres e o que poderia ter sido evitado

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