Na quarta-feira de cinzas, 1º de março, um pouco depois das 10h da manhã o presidente Michel Temer abriu o Palácio do 83Planalto quase que literalmente. Só faltou destrancar a porta. O expediente começaria apenas às 14h, por conta do feriado, mas às 9h30 o chefe do Executivo encasquetou que tinha muita coisa para resolver em seu gabinete, ligou para um de seus principais assessores e avisou que estava a caminho do trabalho. Foi um corre-corre. Não tinha garçom, nem secretária. Os funcionários arrebatados em meio ao descanso, se anteciparam, mas chegaram depois do chefe. Apesar de trabalhar muito, segundo relatos de quem o acompanha, Temer intensificou nos últimos dias seu ritmo laboral. É que dez meses após assumir a Presidência, ele está sofrendo a quarta baixa em seu pelotão de confiança dentro do governo. No dia 23 de fevereiro, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, pediu licença do cargo para fazer uma cirurgia na próstata e não deve voltar tão cedo. Padilha é conhecido como um “trator”, com expedientes que começam cedo e varam a madrugada. Toda vez que perde um de seus assessores, Temer acaba assumindo ele próprio boa parte das demandas imediatas deixadas pelo combatente abatido.

Mas a tática de Temer é não passar recibo e demonstrar que são apenas alguns tropeços no caminho que não terão impacto algum sobre sua gestão. A quem aparece pelos corredores presidenciais com a versão de que o governo pode estar combalido pela perda desses escudeiros, a resposta de auxiliares é imediata. “A única peça indispensável em um sistema presidencialista é o próprio presidente da República. O resto é acessório e pode ser trocado”, disse um dos mais próximos interlocutores de Temer.

O fato é que com a baixa, mesmo que temporária, Eliseu Padilha estará fora do núcleo duro do poder, aquele que auxilia e influencia diretamente o chefe do Executivo. Mas não são só motivações físicas que afastam o ministro do governo. O desgaste de Padilha com a Justiça, em meio a denúncias de envolvimentos em escândalo com a Lava Jato, acenderam o alerta vermelho no Planalto, que no momento avalia como conveniente este afastamento. Ao menos até que a crise arrefeça.

“A única peça indispensável em um sistema presidencialista é o próprio presidente da República”, diz um interlocutor de Temer

O advogado José Yunes, ex-assessor especial de Temer, resolveu recentemente prestar de forma espontânea um depoimento e depois repetir publicamente que foi usado como “mula” de Padilha, incendiando ainda mais a imagem do chefe da Casa Civil. Yunes declarou não saber que o pacote deixado em seu escritório continha dinheiro dentro. Embora isso atordoe o governo, Yunes é um dos homens da maior confiança de Temer e jamais lançaria mão desta estratégia repetidas vezes sem antes combinar com o presidente.

TROCANDO AS PEÇAS
A cada nova perda, Temer acaba assumindo pessoalmente o papel daquele que lhe falta, enquanto procura substitutos. Marcou para este fim de semana, por exemplo, uma conversa com o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. Quer o criminalista ajudando, de alguma maneira, dentro do governo. Além de Padilha, o presidente perdeu em maio a convivência dentro do Palácio do Planalto do ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), que ficou apenas uma semana. A solução está sendo manter o então secretário executivo, Dyogo Oliveira, como interino. Enquanto isso, Jucá continua atuando como uma espécie de ministro à distância, mas sempre passando antes por Temer.

Em novembro, o governo também perdeu o então ministro de Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, que caiu em uma bárbara contenda revelada por outro auxiliar, o ex-chefe da Cultura Marcelo Callero. Geddel pressionou para que Callero forçasse o Iphan, órgão vinculado ao MinC, a liberar um empreendimento imobiliário onde ele possuía um apartamento. A vaga deixada por Geddel levou três meses para ser preenchida. Até nomear o tucano Antonio Imbassahy para o posto, Temer assumiu praticamente sozinho o “varejo” com os parlamentares. Sem nenhum tipo de filtro, dedicava grande parte de sua agenda a receber e negociar com os legisladores, inclusive com os do baixo clero.

Já em janeiro, perdeu do convívio direto no Palácio de seu assessor especial José Yunes, que pediu demissão depois que seu nome foi envolvido na denúncia de que coletou R$ 4 milhões para o PMDB. O desfalque mais recente foi a saída de José Serra do Ministério das Relações Exteriores, alegando problemas de saúde. O tucano era um bom conselheiro de Temer. Na última quinta-feira 2, no entanto, o presidente anunciou um substituto para o cargo: o senador Aloysio Nunes Ferreira (PMDB-SP) será o novo ministro-chanceler.