A versão de My Fair Lady que estreia no sábado, 27, no Teatro Santander, marca duas estreias distintas: a do experiente barítono Paulo Szot em um musical brasileiro e a primeira montagem de fôlego da novata Daniele Nastri. Ele vive Higgins, professor de fonética que, para comprovar a eficiência de sua técnica, faz uma aposta na qual garante transformar Eliza Doolitle, uma florista rudimentar (personagem de Daniele), em uma grande dama. “São papéis que exigem não apenas um ótimos cantores, mas principalmente intérpretes que saibam representar”, garante o encenador Jorge Takla, que já dirigiu uma montagem dessa peça em 2007.

Szot notabilizou-se como cantor de ópera. Nos Estados Unidos, onde faz temporadas regulares no Metropolitan, também trabalhou na Broadway e, em 2008, ganhou o Tony de melhor ator por sua atuação no clássico South Pacific. Além da excelente técnica vocal, em que explora com desenvoltura a tessitura da voz, o barítono sempre se destacou também pelo tipo físico e pela energia cênica.

Já a soprano Daniele Nastri iniciou carreira em Goiânia, onde desenvolveu uma sólida formação em óperas – interpretou a rainha das fadas Tytania, de Sonho de Uma Noite de Verão. E estreia agora em um musical. “A dificuldade do papel se traduziu logo nas audições, que duraram três dias seguidos”, conta a atriz, que foi testada não apenas no canto, como também em atuação e dança. “Eliza passa por uma profunda transformação e isso precisa ser muito bem mostrado pela responsável pelo papel”, comenta Takla. “Fui alfabetizada em inglês (meu pai estudou na Inglaterra), o que me permite entender mais facilmente como o modo de falar indica a classe social de cada um”, completa a atriz.

A dicção é, de fato, essencial – e também em relação às canções. “My Fair Lady é uma obra sofisticada, em que as entrelinhas são muito importantes”, comenta Luis Gustavo Petro, compositor e maestro responsável pela regência. “O segmento dramático vem da orquestração.” Ele precisou reescrever os compassos originais e adaptá-los para 14 músicos, que é o tamanho da orquestra – no original, são 30. “Como se trata de uma partitura muito rica, o trabalho de reescrita foi minucioso para manter o respeito ao original.”

Sofisticação é uma qualidade presente em todo o espetáculo. Fabio Namatame, por exemplo, apostou em cores mais densas, com o predomínio do colorido, ao criar os figurinos. “Meu conceito visual se baseia na época em que se passa o musical (anos 1910), mas com um olhar mais contemporâneo”, explica ele, que também cuidou do guarda-roupa da montagem de 2007, dirigida por Takla. “É desesperador você voltar a uma obra que teve sucesso. Para não me tornar refém, decidi que ser diferente seria o melhor caminho.”

Os figurinos estão de acordo com o cenário criado pelo argentino Nicolás Boni que, depois de uma extensa carreira trabalhando na ópera, também estreia em um musical. O cenógrafo apostou na sofisticação, especialmente na cena do baile, uma das mais deslumbrantes, ainda que teve de enfrentar o desafio das constantes trocas de cenário. “A precisão é fundamental”, explica Boni, que decidiu abrir o espetáculo com a enorme reprodução de um jornal britânico dos anos 1910. Trata-se, na verdade, da junção de diversas notícias da época que fazem referência aos temas do musical. “Há até uma crítica do Pigmaleão, do Shaw, na lateral.”

Serviço

MY FAIR LADY

Teatro Santander. Shopping JK. Av. Juscelino Kubitschek, 2041. 5ª e 6ª, 21h. Sáb., 17h e 21h. Dom., 16h e 20h. R$ 50/R$ 260. Até 6/11

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.