A nomeação do ator Milton Gonçalves para a presidência do Teatro Municipal do Rio, em substituição ao compositor e regente João Guilherme Ripper, foi mal recebida pelo meio erudito da cidade.

Tomada com o objetivo de “popularizar” o equipamento cultural mais importante do Estado, a decisão teria conotação política, uma vez que Milton é filiado ao PMDB – partido do recém-nomeado secretário estadual de Cultura, o deputado estadual licenciado André Lazaroni, e também do governador Luiz Fernando Pezão.

Procurado durante todo o dia desta quarta-feira, 22, o ator não deu entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Ripper afirmou que Lazaroni disse ter precisado do cargo para “atender a demandas políticas”. Lazaroni negou que tenha usado esta expressão, e disse que o novo presidente irá investir em música popular e em apresentações dos corpos artísticos no interior e em áreas pobres, com vistas à renovação do público.

O fato de Ripper ter feito um trabalho (de 19 meses) atuante, em meio à grave crise econômica do Estado – que resultou em atraso salariais para os servidores do balé, do coro, da ópera e da orquestra, até hoje sem 13º -, com a produção de doze óperas, seis balés e concertos, e a falta de experiência do ator em gestão foram alvos de críticas.

O próprio Lazaroni, que foi líder do PMDB na Assembleia Legislativa do Rio até há algumas semanas, é advogado e deputado com foco nas áreas esportiva e ambiental. Ele não se constrange ao dizer que foi para a pasta por sua filiação partidária, o que não foi, garante, o caso de Milton Gonçalves.

“Foi uma escolha técnica. É um cargo de confiança e Milton terá carta branca. Ele vai fazer um belo trabalho, é um bastião da cultura brasileira e será o primeiro presidente negro do teatro”, elogiou o secretário. Ele anunciou o nome de Ciro Pereira da Silva, atual responsável pela Central de produções, como futuro “vice-presidente” do teatro, cargo que não existe hoje.

Steffen Dauelsberg, diretor artístico da produtora Dell’Arte, constante na programação do teatro, lamentou: “É a velha história que se repete. Os principais teatros do país não deveriam obedecer a ciclos políticos. Espero que Milton se cerque de pessoas da área. As rupturas são muito traumáticas”.

Ex-diretora do corpo de baile do teatro, a lendária bailarina e professora Tatiana Leskova, acredita que Milton não tenha idade nem perfil para encarar a empreitada – o ator tem 83 anos, mais de 50 no teatro, cinema e televisão, e agora terá de lidar com uma estrutura grandiosa (só artistas são mais de 300). “O diretor tem que ser um profissional da arte erudita. Cada um no seu lugar”, criticou.

Presidente do teatro em 2015, o maestro Isaac Karabtchevsky se disse surpreso. “Conheço pouco o Milton. É um cargo difícil, que está sendo prejudicado pela situação do Estado.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.