João Doria

O champanhe Dom Perignon 1999 foi comprado às pressas pelo irmão, o produtor de cinema Raul Doria, mas ainda está intacto na geladeira da casa de João Doria Júnior. Era para ter sido estourado em 2 de outubro, quando a maior parte dos votos válidos indicou que o empresário estava eleito no primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo, fato surpreendente e inédito desde 1992, quando o segundo turno foi instituído nas eleições. “‘Não dá tempo’, foi o que o João disse quando cheguei naquela alegria. Saímos correndo para a sede do PSDB, onde ele faria o primeiro pronunciamento”, conta Raul. Dois meses depois, continua não dando tempo. “A vitória em primeiro turno aumentou a responsabilidade”, diz o prefeito eleito.

Doria conquistou 3.085.187 votos (53,29%), derrotando nomes como o prefeito Fernando Haddad (PT), a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy (PMDB-SP), o deputado Celso Russomano (PRB-SP) e a ex-prefeita e deputada Luiza Erundina (PSOL-SP). Sua vitória é surpreendente. O que faz um candidato desconhecido das massas passar de 6% das intenções de voto em julho e, dois meses e meio depois, comemorar a glória inédita de ganhar no primeiro turno na maior cidade do País? “Fiz propostas e não ataquei ninguém. A população respondeu”, diz Doria. “Nossa marca será de inovação, transformação, transparência e descentralização. Não tenho a pretensão de ser um revolucionário, mas um inovador na política. São Paulo é global. Temos que pensar e agir grande”, afirma.

Para quem passou a campanha repetindo o mantra “não sou político, sou gestor”, agora o político João Doria nasce de fato. Ele desconversa sobre a ideia de se candidatar ao Governo do Estado em 2018. “Meu foco é ser prefeito por quatro anos”, diz. Doria admite que, no Brasil pós-Lava Jato, ser político ficou mais complicado. “Fazer política, sem dúvida, está mais difícil. Mas a operação Lava Jato é necessária para que o País possa ser passado a limpo.” O temor de passar a ser vidraça, no entanto, não parece afetá-lo. “Vidraça eu já sou. Não é questão de ter temor”, afirma. “Depois da posse, e em qualquer circunstância, serei muito bem observado. Quando se disputa uma eleição, deve-se saber que sua vida será revirada. É da natureza política. Mas, se quem não deve não teme, aceito o enfrentamento.”

O ritmo de Doria na transição acelerado. E assim ele promete seguir após a posse no Teatro Municipal, em janeiro. Depois de dispensar carros oficiais para ele e os secretários, Doria estreará como prefeito vestindo o uniforme de gari. Às 6h de segunda-feira 2, seu primeiro ato público como prefeito será varrer a Avenida 9 de Julho. “Começo pegando na vassoura”, avisa. “A jornada do prefeito começa ajudando na limpeza pública.” O gesto, diz, valoriza a zeladoria urbana, com limpeza e “manutenções que a cidade infelizmente não teve”. O marketing é bom. Doria quer demonstrar “apreço e sentimento pela cidade”. “É preciso contribuir, não só cobrar e ter expectativas. Se todos ajudarem, a cidade vai ficar melhor.”

“Entrei para ganhar. Mas a vitória no primeiro turno foi um fato acima das expectativas”

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