A decisão do Supremo Tribunal Federal de suspender a lei que permitia o uso da fosfoetanolamina, a pílula do câncer, deve ser comemorada. A autorização de um produto até agora sem comprovação científica de eficácia e de segurança embutia dois graves problemas: primeiro, colocava em risco a saúde de pessoas atingidas pela doença e que, compreensivelmente, ficam mais vulneráveis a buscar recursos que prometem resultados milagrosos. Depois, jogava o País em uma vala irresponsável e perigosa ao referendar o uso de um produto sem qualquer chancela da ciência.

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Entende-se que o câncer seja uma das enfermidades que mais assusta e castiga os pacientes. Mas não é com supostas soluções tiradas da cartola que a doença será enfrentada com seriedade. Muito se avançou nos últimos anos. Sabe-se mais sobre o desenvolvimento dos tumores, sobre os remédios adequados e caminha-se para um modelo no qual o tratamento será cada vez mais individualizado.

Muitos tipos de câncer têm cura desde que detectados em estágios iniciais e tratados corretamente. Uma das principais estratégias hoje é a utilização dos remédios imunoterápicos, que ativam o sistema de defesa do paciente para que as células tumorais sejam combatidas. Há opções muito eficazes contra o melanoma, o mais agressivo tipo de tumor de pele, e contra os tumores de pulmão e de rim, por exemplo.

É importante saber que os progressos só foram obtidos por meio da prática da boa ciência, que se baseia na obediência a protocolos de pesquisa extensivamente testados e adotados em todo o mundo. Somente após passar por todas as fases de estudo (em laboratório e depois em humanos ) é que uma droga pode ser submetida a aprovação de agências reguladoras para finalmente chegar ao paciente. Qualquer outra coisa que não siga esse roteiro não passa de enorme irresponsabilidade com a saúde alheia.