João era um sujeito moderado, com bom senso. Havia estudado história, não com seus professores marxistas, por um prisma ideológico, mas sim observando os fatos passados. Lera também boas teorias, como as de Mises e Hayek. Concluíra que toda experiência socialista fora um retumbante fracasso, um fiasco que levara apenas à escravidão e à miséria. Por isso, sempre tinha condenado o PT, e depois da queda do governo passou a atacar suas linhas auxiliares, como o PSOL, a Rede e o PCdoB. Sabia que eram partidos radicais de extrema esquerda. Entendia perfeitamente a necessidade de se aprovar a PEC 241, que limitar os gastos públicos era questão de vida ou morte. Também compreendia que sem uma reforma previdenciária nosso futuro estaria condenado.

Diante do quadro de corrupção alastrada nos três Poderes, essa gente clamava até por uma intervenção militar

Com apreço pela lógica, tinha noção de que o Estado não era a locomotiva do progresso, mas sim um grande dreno de recursos dos trabalhadores e um pesado obstáculo ao enriquecimento geral. Um Leviatã que distribuía privilégios e custava caro, enquanto entregava péssimos serviços. Por isso era defensor das privatizações e da redução do Estado. Também pregava a flexibilização das leis trabalhistas, pois percebia como os sindicatos atrapalhavam os trabalhadores em vez de ajudá-los.

Por tudo isso, coisa bem básica para os países desenvolvidos, João era atacado pela esquerda nas redes sociais, acusado de ser um “fascista”, algo difícil de engolir para quem sabia que fascismo era justamente concentrar poder no Estado e nos sindicatos. Mas João começou a perceber que havia um grupo pequeno que se dizia de direita e também defendia o Estado, uma sociedade militarizada controlada de cima para baixo, um nacionalismo protecionista que enxergava a abertura comercial como um problema, não uma solução.

Diante do quadro de corrupção alastrada nos três Poderes, essa gente clamava até por intervenção militar, e sentia saudade das duas décadas de militarismo. João era capaz de entender as angústias dessas pessoas, vendo o cenário deixado pelo PT. Mas não poderia aceitar medidas tão drásticas e antiliberais. Sabia como os militares tinham asfixiado liberdades individuais e criado empresas estatais ineficientes. Passou, então, a condenar essa turma estridente, que falava em nome de toda a direita enquanto desprezava os valores liberais que lhe eram tão caros. Por isso, passou a ser atacado pela horda organizada nas redes sociais, rotulado de “socialista”. Logo ele!

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