Em Raqa, várias crianças saíram timidamente às ruas em um bairro dominado pelo grupo Estado Islâmico (EI). Vendo, ao longe, que alguns homens armados lhes faziam um sinal amigável, convenceram seus pais de que o caminho estava livre para fugir.

Ahmad Chaabo, um dos 20 civis que conseguiram escapar de um bairro dessa cidade síria na terça-feira (27), conta como – graças a estas crianças – ele e outras pessoas evitaram a morte.

“Estávamos totalmente cercados, e os jihadistas não nos deixavam sair”, lembra Ahmad, de 35 anos, sentado na calçada com a filha nos braços.

“Sempre que saíamos, os franco-atiradores nos perseguiam. Atiraram em mim uma vez, quando buscava água para os meus amigos”, relata Chaabo, agora em segurança em Jazra, na periferia oeste de Raqa.

Bloqueados em Al-Dariya, um bairro no oeste de Raqa, Ahmad e os demais civis sabiam, na terça-feira (27), que as Forças Democráticas Sírias (FDS) estavam perto dali. Essa aliança curdo-árabe tenta recuperar a cidade das mãos do EI.

“As crianças foram inspecionar a rua para ver se tinha como sair. Eles (os combatentes das FDS) os viram e os chamaram”, contou Ahmad.

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“Um garoto então voltou para nos dizer que podíamos sair”, acrescentou.

Ao seu lado, mulheres, crianças e idosos parecem exaustos. Algumas mães mantêm lágrimas nos olhos e o rosto marcado pela angústia, mas todos estão aliviados de terem fugido da morte.

Agora, já se vê várias mulheres usando não as abayas pretas impostas pelo Estado Islâmico em seus feudos no Iraque e na Síria, mas coloridas. Abayas são aqueles vestidos mais compridos que cobrem todo o corpo feminino, deixando rosto, pés e mãos à mostra.

– Avanço lento

As FDS entraram em 6 de junho em Raqa, a “capital” do EI na Síria, e conquistaram 25% de sua superfície. Agora, tentam cercar o centro da cidade, mas, para atingir esse objetivo, devem tomar primeiro os bairros vizinhos, como o de Al-Dariya.

O centro dessa cidade será palco da batalha mais dura e perigosa. É lá que se concentra o maior número de habitantes e de extremistas.

A ofensiva de Raqa é a mais emblemática para as FDS, que lutam há meses contra o EI com a ajuda da coalizão internacional dirigida por Washington.

Os civis que permanecem na localidade – quase 100 mil, segundo a ONU – sofrem com a escassez de energia elétrica, de comida e, sobretudo, de água.

Na entrada de Al-Dariya, de dentro de um edifício, um franco-atirador emboscado das FDS dispara com sua arma automática pelo buraco de uma parede. Desse ponto, observa-se uma paisagem de prédios destruídos, com colunas de fumaça visíveis ao longe, ou, ainda, dois corpos que jazem na rua.

Faz uma semana que as FDS avançam devagar, porque os extremistas tomaram civis de reféns, segundo a aliança curdo-árabe. Além disso, o EI está lançando um contra-ataque para defender seu “território”.

“Quanto mais avançamos na cidade, mais aumentam seus ataques com carros-bomba, franco-atiradores e armas pesadas”, explica Zana Kobane, um dos comandantes das FDS.



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