São Paulo, 23/6 – Antes de se apontar culpados para o bloqueio imposto pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira, é preciso esclarecer a situação, principalmente para o consumidor do produto. A afirmação é do vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Carlos Salani.

Uma reunião com o Ministério da Agricultura deve ser realizada por conferência ainda nesta sexta-feira para definir os próximos passos. “Dependendo dessa conferência, vamos para Brasília na segunda-feira”. Na quinta-feira, o secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, anunciou a suspensão de todas as importações de carne bovina in natura do Brasil, após serem encontrados abscessos nos produtos. Esses “caroços” seriam causados pela vacina contra a febre aftosa, como apontaram representantes do setor de carne bovina.

“É importante dividir a cadeia e entender todo o processo. A indústria de vacinas produz a vacina. O produtor faz a aplicação. Por fim, o frigorífico abate e faz a ‘toalete’ (quando se retiram imperfeições da carcaça do boi). Vacinação é um tema muito complexo e técnico. Queremos entender se toda esta demanda que vem dos EUA é inerente à reação de vacina, ou se tem outras coisas”, questionou.

Diante da complexidade, Salani destacou como positivo o discurso de quinta do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, apontando a necessidade de se abrir uma investigação para entender o que está acontecendo. Segundo o ministro, é preciso tentar resolver esse assunto o mais breve possível, “já que pecuária brasileira enfrenta grande dificuldade, com preços baixos”.

Representantes da indústria de carnes do Brasil atribuíram a responsabilidade pelo bloqueio a possíveis reações dos animais à aplicação das vacinas para a prevenção contra a aftosa. Salani explicou que existe todo um cuidado, um manejo adequado, durante o processo de aplicação, para garantir o não surgimento de nódulos nos animais.

“Já de início, ela é uma vacina oleosa. A absorção é diferente. Mas também há cuidados de aplicação e também de limpeza. Sem contar que as reações dependem também do organismo do animal”, ponderou. “A vacina brasileira é a melhor para aftosa na América Latina, quem sabe até no mundo. Cerca de 350 milhões de doses são aplicadas de maneira normal no Brasil durante as duas campanhas anuais (novembro e maio), além de outras 100 milhões que são exportadas para países vizinhos. Se a vacina não fosse segura, teríamos 350 milhões de reclamações”, ressaltou.

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Conforme Salani, todo o material é vistoriado pelo Ministério da Agricultura, após um rígido controle e aprovação para a comercialização. “Quando ele (ministro) fala em verificar, ele tem de estar ciente de que 100% da vacina é controlada pelo governo”, salientou.

Salani disse, ainda, que não condiz com a realidade a afirmação de que, depois de problemas na exportação de carne para o Chile (também pelo aparecimento de abscessos na carne), a indústria de vacinas não se movimentou. “A partir de agosto, não produziremos mais a vacina para combater três tipos de vírus, já que um deles foi totalmente erradicado. Essa nova vacina vai ser aplicada a partir de maio de 2018”.

Além disso, em março do ano que vem o setor vai apresentar ao ministério o modelo de vacina com 2 ml (a atual é de 5 ml). Tanto a retirada do composto para o tipo C do vírus quanto a menor dosagem facilitará a vacinação. “Imagina você tomando um remédio que é menos da metade do tamanho do anterior? As chances de alguma reação são bem menores. A indústria fez um investimento significativo em tecnologia para o governo poder planejar a suspensão da vacina com mais tranquilidade”, explicou.

O representante do setor destacou também que o setor de vacinas ajudou a colocar o Brasil no atual nível de destaque no comércio internacional de carnes. “Quando você fala que exporta com status de livre com vacinação é porque, com a vacinação, desde 1995 o Brasil não tem mais problemas com a aftosa. Nós da indústria estamos à disposição para esclarecer o tema.”


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