Lava Jato
Simbolismo e efetividade

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Aos números: 52 acusações contra 241 pessoas por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Condenação: 110; com penas de mil anos. Valores recuperados: R$ 3,6 bilhões. Quase 70 detentores de foro privilegiado sob investigação no STF. Marechais da política, empreiteiros, executivos de estatais, doleiros, marqueteiros e lobistas na cadeia ou em prisão domiciliar. Mapeamento de subornos estimados em R$ 6,2 bilhões.

Centenas de buscas, apreensões e quebras de sigilos. Rastreamento de operações bancárias envolvendo R$ 1 trilhão. Acordos de investigação conjunta com 34 países. Nove em cada dez sentenças de primeira instância confirmadas em instâncias superiores.

Eis um breve retrato estatístico da Lava Jato, com pouco mais de um ano de atuação. Negar a relevância da operação, num País onde a impunidade sempre foi regra, só pode ser de má-fé. Portanto, mais uma vez, aplausos aos ventos que sopram de Curitiba.

Mas dúvidas ainda afligem os corações de seus fãs. Na quinta-feira, o juiz Sérgio Moro (foto) livrou da vigilância eletrônica o ex-diretor Paulo Roberto Costa, um dos capos do assalto à Petrobrás. O corrupto roubou tanto, mas tanto, que só em devoluções aos cofres públicos desembolsou R$ 70 milhões.

Em muitos países, figuras desse quilate confesso apodreceriam na jaula, ou, como na China, levariam um tiro na nuca.

Costa passou alguns meses trancado, outros numa casa de veraneio, com a famosa tornozeleira e – fora quatro horas semanais de serviços comunitários – está livre, leve e solto para tocar a vida, 17 anos antes de cumprir a pena, de 20, que fora condenado.

Outros personagens graúdas no esquema também estão sendo tratados por um código que troca castigos exemplares por delações que remetam a tubarões maiores. Tudo bem, talvez valha a pena. Mas, por enquanto, estamos no “talvez”.

A lista de punições reduzidas, patrimônios pessoais preservados e liberdades reconquistadas cresce mais rápido do que a de condenações no alto escalão da quadrilha.

A conta precisa fechar, para o bem de todos e felicidade da Nação. Aos brasileiros que pagaram, pagam é sempre pagarão pela festa, interessa que a realidade mude – e não só simbolicamente. Favorecidos os criminosos de “menor estrutura”, aguarda-se pelas punições reservadas aos seus superiores. E estes, até agora, estão onde sempre estiveram.

TST
Fora da festa

Todos os convites para o seminário comemorativo pelos 75 anos da Justiça do Trabalho e 70 anos do TST tiveram que ser trocados às pressas, em Brasília. É que entre os apoiadores do evento, dia 24 de novembro, com o nome em destaque, aparecia o Instituto Brasiliense de Direito Público. Um dos sócios da instituição é Gilmar Mendes, do STF. E o ministro arranjou desafetos na Justiça trabalhista, ao afirmar há dias que o TST tem “má vontade com o capital”.

Advocacia
Grande ausência

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Depois de arrolar Lula e Michel Temer entre as 22 testemunhas de defesa do deputado afastado Eduardo Cunha, Fernanda Tórtima vai dar um tempo na causa. A advogada carioca receberá cerca de mil pessoas neste sábado 5, festejando 40 anos de vida. Da revitalizada Praça Mauá, Centro do Rio de Janeiro, os convidados irão à Ilha Fiscal. Não estivesse preso preventivamente no Paraná, Cunha (e a mulher Claudia) possivelmente estaria no palacete neogótico do Século 19, palco da última grande festa da monarquia.

Política
Blindagem

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Depois de temporada no exterior Jacques Wagner está de volta à Bahia. Com isso haverá pressões junto ao governador Rui Costa, para nomear o ex-ministro para cargo de secretario, o que lhe daria foro privilegiado. Wagner é investigado na Lava Jato, a pedido da Procuradoria Geral da República. Aliás, em março passado, ele foi um dos articuladores da nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil, manobra para tirar o ex-presidente do alcance do juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná, responsável pela operação na primeira instância. Como se sabe, a trama não deu certo.

Anac
Rota do momento

Por 14 meses seguidos cai o movimento de passageiros na aviação civil (-4,9% em setembro). A realidade é menos dura (- 0,4%) quando se olha para a “República de Curitiba”, termo criado por Lula, em uma conversa com Dilma Rousseff, interceptada pela PF. Talvez fruto do trabalho da Lava Jato (e suas inúmeras prisões), o vaivém de pessoas para o Paraná praticamente se mantém. De março de 2014 (início da operação) até setembro agora, pelo aeroporto local passaram 8.910 milhões de passageiros. De março de 2012 a setembro de 2014 foram 8.950 milhões. Os dados são da Anac.

Estados
Lote grande

A delação premiada que Marcelo Odebrecht negocia na prisão pode colocar cerca de dez governadores no banco de réus, segundo participantes da Lava Jato. Hoje, apenas um chefe de Executivo é investigado no STJ: Luis Fernando Pezão, do Rio de Janeiro. No mês passado o tribunal arquivou por unanimidade o processo que tinha como alvo Sebastião Viana, do Acre. O pedido de arquivamento partiu da Procuradoria Geral da República.

Agricultura
Drama no campo

Grandes empresários do agronegócio enfrentam dificuldades para renegociar dívidas com os bancos privados e estatais. Vários agricultores foram negativados pelas instituições financeiras. A tomada de novos créditos também não tem sido tarefa fácil. Tudo, no início de plantio da safra 2016/2017. A estatal Conab já detectou o problema.

PSDB
Sem estresse

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Embora FHC tenha rechaçado de pronto, na quinta-feira 3, uma nova candidatura. o desmentido foi visto com ressalvas. Pessoas muito próximas a Michel Temer, e o próprio, suspeitam que FHC sabia do artigo publicado na Folha de SP. Sim, ou não, a amizade entre Temer e o ex-presidente seguirá inabalada.

Mineradora
Pauta aberta

 

Atingida em cheio pela violenta queda no preço das commodities no ano passado, a Vale negocia novo acordo coletivo com os seus empregados. Ofereceu 6,5%. Melhor do que em novembro de 2015, quando deu zero de aumento e R$ 3,5 mil de abono – que somado a tickets extras de alimentação alcançou R$ 6 mil . Em quase um ano, a mineradora demitiu cerca de 6 mil trabalhadores. Hoje emprega 51 mil pessoas no Brasil.

Esportes
Ressaca olímpica

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Após a Rio 2016, as confederações olímpicas esperam reforço em seus caixas. Pode não acontecer. A arrecadação das loterias em 2017 deve se manter em relação a este ano. E os recursos da Lei Piva, que financia o esporte olímpico, serão divididos por mais cinco modalidades aprovadas para Tóquio 2020. Por outro lado, o Ministério do Esporte, com orçamento contingenciado, ainda não anunciou medidas de impacto para mudar esse cenário. O que se sabe é que vários patrocinadores, majoritariamente empresas estatais, estão refazendo seus cálculos, com previsão de redução de recursos para o esporte.

Fotos: Gisele Pimenta/Framephoto; Camila Domingues; Renato Sette Camara