Em uma brincadeira do programa “Topa Tudo por Dinheiro”, Silvio Santos se senta em uma tábua posicionada em cima de um tanque com água para explicar como o jogo funcionaria. Faz graça, dá risada. Ao tentar sair pela borda do tanque, pisa em falso e cai. Sem tirar o sorriso do rosto, fica em pé com a água batendo na cintura, tira o microfone preso no peito, ignora a toalha que a assistente corre para entregar, pega outro microfone e solta: “Rá-ráááááái”. De domingo em domingo, cenas pitorescas como essa, que ocorreu em 1992, foram construindo a lenda como a conhecemos hoje, desde 1965, quando o “Programa Silvio Santos” foi exibido pela primeira vez, na Globo. Um apresentador que se tornou ícone no imaginário popular brasileiro, Silvio terá sua trajetória contada em uma exposição no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, a partir da quarta-feira 7. “A ideia era fazer uma mostra sobre a televisão no Brasil. Acabamos escolhendo falar sobre o Silvio porque ele é a própria história da tevê”, afirma André Sturm, diretor-executivo do MIS.

A mostra é dividida em 30 áreas com 400 itens que retomam a carreira de Silvio desde a época em que ele era locutor em uma barca que fazia o trajeto Rio-Niterói. Entre uma música e outra, brincava com as pessoas, fazia sorteios e vendia refrigerantes: nascia ali o “enternainer”, que logo depois foi para o rádio e, em seguida, para a tevê. “Ao longo da exposição, mostramos também como as tecnologias evoluíram”, diz Sturm. Um desses objetos é uma relíquia, a câmera usada na primeira exibição televisiva, em 1950, pela TV Tupi. “Em 1960, essa mesma câmera inaugurou a TV Excelsior e, em 1970, a TV Gazeta”, diz Elmo Francfort, diretor do Museu Pró-TV, que emprestou objetos para o MIS. “A exposição é uma homenagem não só ao Silvio, mas a todos os profissionais dos meios de comunicação pelos quais ele passou”, diz Francfort.

Recorde de público

Na primeira reunião com uma equipe do SBT, ainda sem a presença do “Patrão”, um pedido foi feito: Silvio não queria que o projeto soasse como autopromoção. Depois de ter sua autorização, o museu passou a garimpar fotos, imagens e informações. Há cerca de um mês, aconteceu um encontro com o apresentador para acertar detalhes e tirar dúvidas relacionadas a datas e informações sobre sua vida. Ele também gravou uma participação interativa e um vídeo de boas-vindas. Segundo Sturm, espera-se que a mostra supere o recorde de visitação, o da exposição “Castelo Rá-Tim-Bum”, vista por mais de 400 mil pessoas. “O público vai não só por uma questão de admiração, de ser fã. Silvio faz parte da memória afetiva dos brasileiros”, afirma.
Nascido Senor Abravanel, Silvio, hoje com 85 anos, já apresentou toda a sorte de programas: de brincadeira da forca, de namoro, de sorteios. Vira e mexe, retoma algum sucesso de 30, 40 anos atrás, faz algumas adaptações e volta a exibi-lo, como o “Qual É a Música?”, transmitido nos anos 1970, 1990 e 2000. É como se estivesse sempre disposto a vender novamente aos espectadores o que eles querem assistir. Como se ainda fosse o camelô de 14 anos, que investe, aposta, arrisca e negocia com o público. No palco, age como se estivesse na sala de sua própria casa: dá risada, faz piada, tropeça,conversa. “Ele chegou em um momento que os televisores estavam se popularizando e cravou essa marca de artista do povo”, afirma Francort, do Museu Pró-TV. “Com espontaneidade e versatilidade, tornou-se insubstituível.”

Uma vida no auditório

Silvio Santos dedicou grande parte da vida à televisão. Estreou na antiga TV Paulista em 1962, no programa “Vamos Brincar de Forca”. Mais tarde a emissora foi comprada por Roberto Marinho, mas Silvio continuou como apresentador, em um programa que levava seu nome. Fundou o SBT em 1981, onde virou o “Patrão” e o “Homem do Baú”. Fotos antigas dos diferentes períodos de sua carreira também farão parte da mostra no MIS (acima, três exemplos: no alto, imagem da Revista Chic sem data; ao centro, em um programa de 1976; e abaixo na gravação de “Topa Tudo Por Dinheiro”, em 1988). Em comum, todas mostram o homem como o conhecemos até hoje: de postura altiva e de traje formal, com terno e gravata muito bem cortados, mas sempre de sorriso largo.


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