A clássica imagem da pesquisa científica feita em uma sala cheia de ratos presos em gaiolas pode ficar desatualizada com o avanço de métodos alternativos. Novas técnicas que, em vez de animais do filo dos cordados, utilizam para testes larvas de insetos ou até mesmo culturas de células criadas em laboratório vêm sendo desenvolvidas ao redor do mundo. No Brasil, mais sete desses métodos foram reconhecidos e deverão substituir definitivamente alguns procedimentos tradicionais para testar a possível agressão de um produto aos olhos, à pele, ao sistema reprodutor e a reação térmica do organismo.
Um dos testes a ser trocado é o que avalia o potencial de irritação e corrosão ocular. Cada novo lote de colírio fabricado, por exemplo, é testado no olho de coelhos ou outra espécie antes de ser comercializado. Agora é feita a mesma avaliação em uma cultura de células, in vitro. Nem sempre, porém, os métodos alternativos substituem totalmente os testes em seres vivos. Alguns deles apenas deixam os experimentos mais precisos, de forma a diminuir o número de seres expostos ao teste.
Como explica a professora Nilza Maria Diniz, especialista em bioética da Universidade Estadual de Londrina e da Sociedade Brasileira de Bioética, a discussão sobre o uso de animais em pesquisas, além de ciência, envolve questões morais e filosóficas. “Qual o interesse de todo mundo? Não ter dor.” A professora defende que isso deve ser um objetivo em relação a não humanos também, mas não vislumbra um cenário em que os animais não sejam mais necessários às pesquisas.
Talvez “quando o mundo estiver todo virtual”, avalia ela, evocando filmes de ficção científica e fazendo um exercício de imaginação. “Sinto que a gente tem uma forma maniqueísta de ver as coisas”, comenta, se referindo a setores da sociedade que defendem o fim imediato das pesquisas com animais e outros que pensam apenas no progresso da ciência.
A discussão, esclarece o professor Marcel Frajblat, do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é bastante recente. Vem da década de 70. “Nas aulas eu comparo com a preocupação com o meio ambiente.” Antes disso, praticamente ninguém questionava. Hoje, segundo ele, há uma pressão enorme da sociedade em relação ao sofrimento dos animais usados nos laboratórios. O professor também explica que a grande maioria dos métodos alternativos é teste de segurança, havendo uma infinidade de outros experimentos que ainda não contam com técnicas parecidas.
Além destes sete métodos alternativos reconhecidos recentemente, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) já havia aprovado outras 14 técnicas em 2014. Essas aprovações têm força de lei, e os institutos de pesquisa têm cinco anos para se adequar.
Segundo o Conselho, existem diversos outros métodos, mas que ainda não foram validados. Do ponto de vista do custo, o CONCEA diz que não há grande diferença entre os procedimentos tradicionais e os alternativos já que a manutenção de grandes biotérios com vários animais nas condições ideias para pesquisa é muito cara.