O ministro das Relações Exteriores, José Serra, que foi a Israel acompanhar o enterro de Shimon Peres, aproveitou a viagem para buscar uma aproximação com o país do ponto de vista comercial e político. Em Jerusalém, o chanceler se reuniu com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com o objetivo de reforçar as relações econômicas e ampliar o alcance do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e Israel.

Ex-presidente, ex-premier e considerado um dos fundadores do Estado de Israel, Shimon Peres foi prêmio Nobel da Paz após mediar, com o líder palestino Yasser Arafat, o Acordo de Paz de Oslo. O enterro de Peres foi acompanhado por 80 líderes mundiais, entre eles o presidente norte-americano, Barack Obama, e o da França, François Hollande.

Após incidentes diplomáticos recentes entre Brasil e Israel, o Itamaraty quer adotar uma nova política exterior tendo com base a ampliação e diversificação das relações comerciais com o país judeu. O interesse do Brasil na convivência pacífica entre Israel e Palestina, no entanto, continua sendo uma posição de Estado.

De acordo com o Itamaraty, Netanyahu recebeu Serra no final da tarde de hoje (30) e os dois concordaram em intensificar as relações políticas bilaterais. “O interesse do Brasil é contribuir para a retomada das negociações entre israelenses e palestinos, rumo a um acordo que possa levar à convivência de dois Estados, Israel e Palestina, lado a lado, em paz e segurança. Isso vai além do Oriente Médio; é fundamental para a paz mundial”, informou o ministério, em nota.

Já no campo das exportações brasileiras, o Itamaraty avalia que o desempenho “deixa a desejar” e que vender mais para Israel “depende do Brasil”.

“Não é aproveitado, ainda, o potencial do Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel. A ideia é reforçar as relações econômicas, com realce para produtos israelenses de alta tecnologia, segurança e defesa.”

Embaixador israelense

Desde o fim do ano passado, Israel não tem um chefe diplomático no Brasil, após a saída do então embaixador Reda Mansour. O vazamento da indicação de um nome polêmico para assumir o cargo, o do diplomata Dani Dayan, gerou críticas do corpo diplomático brasileiro e fez com que Netanyahu deixasse de indicar oficialmente um nome para o posto.

Antes, em 2014, a então presidenta Dilma Rousseff condenou a ofensiva israelense ao território palestino controlado pelo grupo islâmico Hamas, na Faixa de Gaza.

Soldados carregam o caixão do ex-presidente e prêmio Nobel da Paz, Shimon Peres. Imagem divulgada pelo governo israelense

Soldados carregam o caixão do ex-presidente de Israel e prêmio Nobel da Paz, Shimon Peres Amos Ben Gershom/divulgação governo israelense/Agência Lusa 

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a presença no enterro de hoje de líderes como o presidente palestino Mahoud Abbas, que em um momento histórico apertou as mãos de Netanyahu nesta tarde, demonstra a capacidade agregadora de Shimon Peres na busca da paz e do caminho que israelenses e palestinos ainda têm de percorrer.

“O governo brasileiro recorda, neste dia, um estadista que se dedicou a construir, defender e desenvolver o seu país, empenhando-se, ao mesmo tempo, em romper as barreiras que as diferenças culturais e religiosas, e as sucessivas guerras, não cessaram de reerguer. Shimon Peres será sempre lembrado por todos por seus exemplos e inspiração para iniciativas em benefício da paz”, disse o Itamaraty.