Em 2012, a juíza Andréa Pachá lançou o livro “A Vida Não É Justa”, reunindo crônicas que se passam em audiências, envolvendo divórcio, guarda de filho, pensão, reconhecimento de paternidade, entre outras questões que, de uma maneira ou de outra, são dolorosas aos envolvidos. A obra repercutiu na época, mostrando casos inspirados nos mais de 15 anos em que a juíza atuou em varas de família. Os personagens, claro, não recebem nomes de pessoas reais, mas são construídos a partir de tramas verdadeiras que se repetem diante de um juiz. São histórias tão fortes, comoventes que ganharam adaptação para a TV, na série “Segredos de Justiça”, que estreia neste domingo, 9, no “Fantástico”, na Globo, com direção de Pedro Peregrino e Glória Pires no papel da juíza.

São cinco episódios, com 12 minutos cada um – e uma carga dramática envolvente. Mais do que isso, o espectador é conduzido pela trama de tal maneira a não largá-la até saber qual será o desfecho para aquele conflito familiar em foco, que será proferido pela juíza só no fim do capítulo. E, de volta ao tema da série, casos ligados à família sempre geram interesse. Como ficar indiferente ao personagem Emerson (Marcello Melo Jr.), que registrou o filho da amiga Cristiane (Natália Lage) como se fosse o pai, enquanto o pai biológico, Túlio (Igor Angelkorte), havia sumido no mundo, e agora luta para ter a guarda do menino quando esse pai biológico resolve reaparecer? O que é certo fazer? Conceder a guarda para o pai de verdade do menino ou para o pai que amou esse menino?

E o que falar do caso de Zé Pernambuco (Nelson Freitas), morto vítima de um enfarte fulminante, que tinha duas mulheres, Marta (Heloísa Périssé) e Eliana (Julia Rabelo) – com as quais teve filho – e amava aquelas duas famílias com igual intensidade? Quem deve ficar com a herança?

Para contar essas histórias curtas, “Segredos de Justiça” faz uma mescla interessante de dramaturgia (com a atuação de atores conhecidos) e de um formato comum em documentários, que é o entrevistado, sentado, com uma câmera apontada para ele, dando depoimento para um entrevistador que não aparece na tela. Na série, os entrevistados são supostamente personagens reais contando fatos reais de sua vida, que são reconstituídos na ficção. Mas, na verdade, eles também são atores, rostos desconhecidos, que ajudam a contextualizar os embates que se desenrolam na salas de audiência perante a juíza, ali com os atores conhecidos.

Andréa Pachá também aparece na série, como uma espécie de narradora – uma sacada de roteiro, já que a presença dela ajuda a amarrar as pontas da realidade e da ficção. E faz uma ponte com a juíza que a interpreta na telinha, a atriz Glória Pires. A atuação de Glória, aliás, é outro trunfo. Pela primeira vez vivendo uma juíza, Glória construiu essa personagem trocando informações com Andréa e observando muito seu modo de ser. “A maneira dela de mexer o cabelo, o tom de voz que usa, o jeito dela falar bem coloquial”, detalha a atriz, em entrevista ao Estado, por telefone, ressaltando, em particular, essa última característica de Andréa Pachá, defensora conhecida da simplificação da linguagem jurídica nos tribunais – “as pessoas não precisam falar juridiquês”, defende a juíza.

Houve um primeiro almoço, em que as duas se encontraram. “Fiquei muito impressionada com ela. Assim como outras pessoas, eu também fantasiava essa juíza. Eu imaginava uma pessoa bem formal, e ela é zero formal”, continua a atriz. “O que me interessou mesmo foi conhecer essa mulher, entender a maneira como se relaciona com outras pessoas. Ela usa o poder que tem com todo o cuidado.” E, em sua interpretação, a atriz dá as justas doses de sobriedade e senso de justiça a essa juíza cujas decisões vão influenciar a vida de outras pessoas para sempre. Uma figura que faz cumprir a lei, mas com base no que analisa caso a caso. Da observação do conflito como um todo, mas também nos mínimos gestuais, olhares e falas das partes envolvidas. Sem perder a ternura. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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